01/09/2009

AFINAL A COISA ESTÁ MESMO FEIA

“Verbo Domini coeli firmati sunt”(Sl XXXII, 6)

Pela palavra de Deus, os céus foram firmados.
A Palavra de Deus é o Verbo, o Filho de Deus. A Palavra de Deus é a Verdade, pois que o Filho de Deus encarnado declarou ser a Verdade: “Ego sunt via, et veritas, et vita”( Jo., XIV,6).
Portanto, é pela verdade que os céus foram firmados.
E se até os céus foram firmados pela verdade, nada há que a Verdade não fortaleça.
Exactamente, a crise que a Igreja e o mundo hoje atravessam foi causada pelo fato de que o Vaticano II não buscou a verdade. Antes, pelo contrário, com a escusa da pastoralidade, os Bispos, no Vaticano II, procuraram agradar ao Mundo, usando um palavreado ambíguo, fruto da Fenomenologia e da Hermenêutica Moderna.
Nem proclamaram a verdade, nem condenaram os erros.
O mundo logo seguiu o exemplo do Vaticano II e proclamou, na revolução de 1968, o novo dogma infernal: “É proibido proibir".
Tudo é permitido.
O relativismo triunfou.
Resultado: o mundo caiu no maior abismo a que se chegou na História, e até os “céus” foram abalados, porque se omitiu a verdade que os firmava.
Desde o Vaticano II, pela desgraça do ecumenismo, o indiferentismo religioso, o relativismo e o subjectivismo lançaram o mundo no abismo da incerteza, e abalaram os meios eclesiásticos, os “céus”.
O Vaticano II adoptou a Fenomenologia como linguagem filosófica para se comunicar com o mundo in gaudio et spes. E daí vieram “tristitiae et angustiae”. Tristezas e angústias.
Graças a Deus, agora, Bento XVI faz a barca de Pedro voltar a amarrar-se nas colunas da Verdade e da Caridade. Na Hóstia consagrada e em Maria Santíssima.
Em sua recente encíclica, Caritas in veritate, o Papa Bento XVI, gloriosamente reinante – e gloriosamente não é fórmula de praxe, mas luminosa realidade – estabeleceu como fundamento de tudo a verdade objectiva, condenando o opinionismo, o subjectivismo e o relativismo.
Eis suas palavras:
“A verdade, fazendo sair os homens das opiniões e sensações subjectivas, permite-lhes ultrapassar determinações culturais e históricas para se encontrarem na avaliação do valor e substância das coisas. A verdade abre e une as inteligências no lógos do amor: tal é o anúncio e o testemunho cristão da caridade” (Bento XVI, Caritas in veritate, n0 4).
E ainda:
“No actual contexto social e cultural, em que aparece generalizada a tendência de relativizar a verdade, viver a caridade na verdade leva a compreender que a adesão aos valores do cristianismo é um elemento útil e mesmo indispensável para a construção duma boa sociedade e dum verdadeiro desenvolvimento humano integral” (Bento XVI, Caritas in veritate, n0 4).
Para a doutrina católica do conhecimento e da verdade, tal como foi expressa por São Tomás, “a verdade é a adequação entre o entendimento e as coisas”.
Eis a citação de São Tomás:
“Diz Rabi Ysaac no livro De Definitionibus (citado por Avicena in Metaphisica. Tomo I , cap. IX) que a verdade é a adequação entre o entendimento e as coisas” (São Tomás de Aquino, Suma Teológica, I, Q. XVI, a. 2).
A verdade é alcançada pelo conhecimento humano por via abstracta e não intuitiva. Através dos nossos sentidos, captamos as imagens sensíveis das coisas, e, por abstracção, formamos uma ideia do que elas são. Abstraímos das coisas a sua forma substancial. Na correspondência da ideia do sujeito conhecedor com o objecto conhecido, nisso está a verdade.

Verdade é a correspondência entre a

Idéia do <----------------- sujeito <----------------- e o objecto conhecido conhecedor <----------------- Nosso intelecto, mal comparando, “fotografa” a realidade. A “fotografia” assim obtida é o conceito formado em nosso intelecto. Todos os homens, normalmente, alcançam a mesma ideia de cada coisa conhecida. E é o que nos permite conversar e viver em sociedade. Todos temos a mesma verdade retirada da realidade. Se isso não fosse assim, ser-nos-ia impossível conviver. Seria impossível, para dar um exemplo, jogar xadrez, pois que cada um teria uma visão diferente das peças do xadrez e do próprio jogo. A verdade é, portanto, uma. Como escrevo para leitores da internet, se me permita dar um esclarecimento primário. A ideia de um mesmo objecto é a mesma para todos os que o conhecem. A palavra que expressa essa ideia única pode ser diferente em cada língua. Em italiano, a palavra “burro” significa manteiga. Mas, apesar disso, o conceito de manteiga, quer em português, quer em italiano, é o mesmo. A verdade é una. Além disso, a verdade é universal. Isto significa que ela é a mesma em todos os tempos e em todos os lugares. 1+1 = 2. Isso há muito tempo. Isto é, sempre foi assim e sempre será assim. O teorema de Pitágoras continua, e continuará sempre, exprimindo a mesma verdade: o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos. Hoje, se costuma dizer que certas ideias são antiquadas, ou que outras são modernas. O que é um relincho bem moderno. Uma ideia não se classifica primeiramente como antiga ou nova, mas como certa ou errada. 1+1=2, em toda parte. Portanto, se a verdade é universal, sempre a mesma, e em toda parte, a verdade é imutável. Finalmente, deve-se lembrar que a verdade é objectiva, e não subjectiva. Não é a imagem da máquina fotográfica que produz o objecto fotografado. É o objecto fotografado que produz a imagem fotográfica. Do mesmo modo, não é a ideia que o sujeito conhecedor tem do objeto que produz esse objecto. É o objecto real que produz a idéia concebida no intelecto. A verdade provém do objecto. A verdade é objectiva. Concluindo, a verdade é: una, universal, imutável e objectiva. O mal do mundo actual provém da negação da existência da verdade objectiva. O que leva a pensar que a verdade é pessoal, múltipla, particular, mutável ou evolutiva, e subjectiva. Ora, o lugar onde cada um se julga possuidor de uma verdade pessoal única se chama manicómio. O mundo moderno é o grande manicómio da história. E o mais trágico é que esse mundo moderno exige que haja diálogo. Um diálogo em que cada palavra é entendida de modo subjectivo, por cada um. A Modernidade introduziu o diálogo dos loucos. Para os quais não há dicionário Como querer então que haja entendimento entre os homens? Houve um caso histórico anterior ao da Modernidade, no qual cada um tinha um vocabulário ininteligível para todos os demais . Foi o da Torre de Babel. Revivemos hoje a Torre de Babel. O Manicómio das filosofias. Com a sanção do Vaticano II, através da visão hermenêutica moderna, totalmente subjectivista. Dessa relativização da verdade nasceu a relativização de todos os valores. Se não há verdade objectiva, não há nem bem e nem beleza. Tudo seria mera opinião. Ninguém teria certeza de nada. Cada um acha o que quer. Então, para que estudar? Para que a escola? Para que a Igreja? Vivemos no reino do “achismo”. Num babel manicómio “achista”. Esse mal vem de longe. Vem de Descartes. Vem de Kant. Vem dos filósofos românticos que inventaram o Idealismo alemão. Para o Idealismo, é a ideia que põe o ser. A única realidade seria o eu pensante que criaria o real. O que cada um pensa seria a verdade para ele. Cada um teria a sua verdade. Portanto, não existiria a verdade objectiva. A verdade dependeria de cada sujeito. Ela seria subjectiva, pessoal. A guilhotina da Revolução Francesa, os canhões de Napoleão, os filósofos abstrusos alemães, ajudados pelo romantismo, fizeram triunfar o subjectivismo por toda parte. Esse mal destruidor da inteligência cognoscitiva, negador da verdade objectiva, foi sancionado pelo Vaticano II, com a adopção da Fenomenologia de Husserl, e da Hermenêutica moderna, decorrente dela, como meios aptos para exprimir a doutrina católica. Na verdade , para exprimir o Modernismo; Acontece que a Fenomenologia nega que se possa conhecer o ser e a hermenêutica moderna defende o livre exame da realidade. Ela afirma que tudo pode ser interpretado livremente, negando toda objectividade e toda possibilidade de conhecimento certo das coisas e dos textos. Com efeito, “a moderna Hermenêutica parte do pressuposto de que o ser não é cognoscível objectivamente, nem definível, é somente interpretável” (Mário Bruno Sproviero, in Verdade e Conhecimento – São Tomás de Aquino, Martins Fontes, São paulo, 1999, Tradução, estudos introdutórios e notas de Luiz Jean Lauand e Mário Bruno Sproviero, p. 97). A Fenomenologia e sua Hermenêutica permitiram ao Vaticano II afirmar que cada religião é a verdadeira para os seus seguidores. Não haveria uma religião verdadeira. Todas seriam verdadeiras. Ainda que contraditórias. Acreditando subjectivamente em sua religião pessoal, todos poderiam se salvar em qualquer religião que fosse. Daí nasceu o ecumenismo. Todas religiões sendo verdadeiras, tanto faz seguir uma ou outra. Daí, o indiferentismo e o sincretismo actual, esses dois filhos loucos do ecumenismo. Por isso, é de se comemorar jubilosamente que o Papa Bento XVI, 44 anos após o fim do Vaticano II, tenha tornado a defender que a verdade é objectiva e não relativa. E como para mau entendedor não basta meia palavra, cremos que para esse tipo de leitor do site Montfort – e é certo que muitos teólogos e bispos modernistas assiduamente nos lêem – é preciso e conveniente repetir-lhes a citação do texto de Bento XVI: “A verdade, fazendo sair os homens das opiniões e sensações subjectivas, permite-lhes ultrapassar determinações culturais e históricas para se encontrarem na avaliação do valor e substância das coisas. A verdade abre e une as inteligências no lógos do amor: tal é o anúncio e o testemunho cristão da caridade” (Bento XVI, Caritas in veritate, n0 4). Bem entendido, senhores leitores de má vontade? Somente a verdade objectiva é que pode livrar o mundo moderno da loucura do opinionismo subjectivista e do relativismo. Há mais de quarenta anos essa verdade tinha deixado de ser pregada. Bendito seja o Papa Bento XVI que voltou a afirmá-la. Benedictus qui venit in nomine Domini. Este Papa colocou de novo, como fundamento de tudo, a Verdade. E a Verdade envolve, sobrenaturalmente, a Fé, e naturalmente a Metafísica. Fé e Metafísica são as bases de tudo. Até da política. A ONU — “Cette chose là de New York” – como dizia De Gaulle, até essa calamidade produtora de calamidades, até a crise da ONU comprova que nada subsiste sem a Fé e sem a Metafísica. Por isso, é pena que, quando um Papa clama de novo que existe a Verdade e torna a colocá-la como fundamento de tudo, até da Caridade, é pena que até entre os bons haja quem focalize como mais importante uma mera apreciação política, como ele fez, falando da necessidade de reformar a ONU. Da ONU, que a Verdade e a Justiça exigem que seja destruída. É um erro de perspectiva focalizar como fundamental uma mera opinião política de Bento XVI, quando se deveria exaltar a colocação da Verdade objectiva, Teológica e Metafísica, como fundamento de tudo. Fazer isso seria colocar a importância da critica da política acima da visão crítica dos erros teológicos e metafísicos. Nas palavras de Bento XVI na Spe salvi, isso acontece porque, “Tendo-se diluída a verdade do além, tratar-se-ia agora de estabelecer a verdade de aquém. A crítica do céu transforma-se na crítica da terra, a crítica da teologia na crítica da política(Bento XVI, Spe salvi,n0 20). Exaltemos a Verdade que firma até mesmo os céus. Pois a Verdade destruirá a ONU, essa quimera gerada em antros secretos pelos assim chamados... “homens de boa vontade”.
São Paulo, 22 de Julho de 2009. Orlando Fedeli
Este artigo revela muita coisa feia;
1) Eles não se entendem.
2) A Verdade não está relacionada com a Palavra de Deus.
3) Uma no cravo outra na ferradura, umas vezes estão contra o Papa outras a favor.
4) Há dentro da Igreja Católica o fermento da Inquisição.