Depois de 12 meses de sangrentas lutas durante a
vacância da Sé pontifícia, quando várias facções romanas queriam que fosse
nomeado bispo seu eleito, venceu o partido e Bonifácio, que então foi ordenado e
recebeu o nome de Bonifácio III.
Dizem os historiadores que Bonifácio ganhou
a vaga porque o imperador Focas gostava dele desde a época em que vivia na corte
de Constantinopla. Focas havia matado sua mulher, a imperatriz, e suas filhas e
o patriarca Ciríaco o havia excomungado.
Para vingar-se, Focas elevou a Sé de Roma
acima da Sé de Constantinopla, dando ao papa o título de Bispo Universal de
todas as igrejas cristãs.
Parêntese: primeiro, até esta época (607 d.C) a Sé de
Roma, embora patriarcado, era considerada, na prática, inferior à Sé de
Constantinopla por ser esta a nova capital do império romano que ainda existia
pelo menos de nome.
Segundo: ainda não existia o título de honra
de "Bispo Universal". Terceiro: este título, com tudo aquilo que implica o
adjetivo "universal", foi criação do imperador Focas, c não de Jesus Cristo! É
bom frisar isto.
Mas Bonifácio III gostou tanto do título que convocou
logo um sínodo com todos os bispos do seu patriarcado para cientificá-los da
nova situação religiosa da Sé de Roma e para que, a partir de então, todos os
bispos só pudessem tomar posse depois do reconhecimento do bispo de Roma. Mas
morreu nove meses depois da sua eleição,em l2de novembro de
607.
Sucedeu-lhe Bonifácio IV (608-615), que agradeceu o
imperador Focas pelo que havia feito à Sé de Roma. Focas, enternecido, deu-lhe
de presente o templo do Panteon construído por Mário Agripa, genro de Augusto,
30 anos antes da era cristã e consagrado a todos os deuses do
paganismo.
Sucedeu-lhe Deodato (615-618): um homem piedoso que só
viveu
para ajudar os leprosos, que eram numerosos em Roma.
Morreu abençoado por todos.
Sucedeu-lhe Bonifácio V (619-625) e, a este, Honório
(625-638), que representa um verdadeiro problema para a Igreja Católica. Com
efeito, o bispo Honório é a clássica prova, nas mãos dos racionalistas, de que o
papa não é infalível (como define o dogma católico) porque sustentou e aprovou a
heresia monotelista, professada na igreja grega e protegido pelo imperador
Heráclio.
Os monotelistas sustentavam que Jesus tinha
uma só vontade: a vontade divina e não tinha vontade humana. Num sucessivo
concilio, em 649, os bispos condenaram o monotelismo e condenaram também o papa
Honório queimando suas cartas e gritando: "Excomungado seja Honório, o
herético!"
Seguiu-se mais um concilio ecumênico condenando o
monotelísmo e o papa Honório. As histórias dos papas
escritas por católicos dizem somente que "se deixou enganar pelo patriarca
Sérgio". Outros católicos escrevem: "manifestou-se sobre o monotelismo de
maneira que mais tarde será criticado...". Esconde-se a triste
verdade!
Sucedeu-lhe Severino (640) e logo em seguida João IV
(640-642) e Teodoro I (642-649). Este bispo era um homem particularmente
rancoroso e vingativo, dando prova de grande intolerância nas disputas
teológicas do monotelismo.
Conta a história que querendo ele nu-milhar o bispo
Pirro, que já foi monotelista, mas então, depois da retratação vivia retirado em
Rovena, Teodoro reuniu em Roma um grupo de bispos e em seguida, misturando tinta
vermelha com o vinho da missa já consagrado (o sangue de Cristo na crença
católica) assinou com essa mistura a condenação de Pirro.
Historiadores católicos não tocam neste episódio ou
quando tocam, dizem que este é um uso particular dos prelados gregos e já que
Teodoro era filho de um patriarca de Jerusalém, queria continuar a tradição
oriental...
Sucedeu-lhe Martinho I (649-655) que deu continuidade
aos debates ocasionados pelo monotelismo. A pedido de vários bispos mandou
reunir no palácio do Latrão um concilio de 500 bispos para que examinassem as
questões religiosas que perturbavam a Igreja.
O concilio durou muitos meses e teve cinco sessões, a
primeira das quais começou em 5 de outubro de 649. Todos os bispos falaram e
falaram muito; mas poucos eram aqueles que diziam coisas certas, por falta de
estudos teológicos e sobretudo por falta de idéias
filosóficas.
O historiador Sócrates Escolástico, referindo-se aos
bispos desta época diz claramente que eram "simplórios e ignorantes". (Bastaria
só a pergunta: o que significa "vontade de Deus", se Deus não pode ter vontade
porque a vontade é um atributo humano?)
Mas por fim, muito entediados e cansados aprovaram por
contagem de votos, 20 cânones; e condenaram um monte de gente que não pensava
como eles.
O fim de Martinho I [Papa] foi extremamente
triste. Levado prisioneiro a Constantinopla por ordem do imperador, sofreu por
muitos meses uma dolorosa prisão. No fím, quase morto, sem poder se defender,
foi desterrado para o Quersoneso, onde morreu de fome aos 16 de setembro de 655.
Isto para que os bispos de Roma aprendessem que quem ainda mandava na Itália e
na Igreja era o imperador.
Sucedeu-lhe Eugênio I (654-657), de cuja santidade todos
os historiadores são pródigos. Sabe-se que fez tudo que lhe era possível para
reconciliar a Igreja com o imperador.
Sucedeu-lhe Vitaliano (657-672), que continuou a
política de seu predecessor. Aliás, conseguiu do imperador um decreto que
colocava o bispo Mauro de Rovena sob o poder do bispo de Roma.
IGNORÂNCIA
A impressão que se tem pesquisando em
diferentes autores a história desses papas é a enorme, infinita ignorância
teológica e filosófica. O papa tal tem uma intuição meio estranha?!?... Pronto!
Declara que aquilo é artigo de fé.
Como não existia mais nenhuma Escola de Filosofia
(Justiniano fechou a última!) ninguém era treinado no raciocínio lógico. Tudo é
fundamentado na fé. Aliás, tudo é baseado naquilo que lreneu disse...; que
Epifânio disse.../ que Agostinho disse.../ etc. etc.
É nos "disse que disse" que, nesta época, se
constroem as grandes verdades do cristianismo. A ninguém interessa saber o que Jesus disse, porque, de
fato, Jesus nada escreveu e certamente pouco se importasse com as
teologias...
Quando os legatos pontifícios de papa Agaton chegaram a
Bizân-cio, o imperador Constantino recebeu-os no oratório de São Pedro, no
palácio imperial.
Eles apresentaram-lhe as cartas da cúria
romana e grande foi a surpresa do monarca quando por um primeiro exame,
reconheceu a extrema ignorância dos padres da igreja latina que escreviam numa
língua latina cheia de erros! Erros de ortografia! Erros de palavras! Erros
teológicos!
Mas os padres da igreja grega não eram melhores. Nem
estes nem aqueles tinham idéias claras sobre a pessoa de Jesus; sobre a
Trindade; sobre o conceito de Deus (considerado uma pessoa muito especial, lá no
alto dos céus); sobre a Virgem Maria...
Nos sínodos e nos concílios prevalecia a opinião do
bispo mais poderoso e os demais levantavam o braço num obsequioso
consentimento... (Parêntese: até no Concilio Vaticano II os bispos tinham seus
"Periti", ou seja, os teólogos que conheciam a Teologia!!!).
Resumindo: desde a morte de Jesus, passaram-se sete ou
oito séculos de cristianismo: um cristianismo cheio de disputas teológicas que,
naturalmente, não levaram a nada.
E assim o nosso cristianismo atual é um
conjunto artificial de idéias prováveis, ou, melhor, de suposições que o
fanatismo de cada época acrescentava como sendo verdades certas, mas que quase
sempre eram impostas pelas armas dos reis e mais tarde pela Inquisição e foram
aceitas pela força de tradição.
Dá para entender por que o falecido cardeal Otaviani,
prefeito do antigo Santo Ofício (da Inquisição) a toda hora nos dizia a nós
estudantes de Teologia: "A nossa fé é baseada na
tradição... Aliás, é a tradição que nos dá as Sagradas
Escrituras".
Podia também dizer: "É a
tradição que garante o poder eclesiástico".
Autor: Carlo Bússola,
professor aposentado de Filosofia da UFES
Fonte: Publicado
originalmente no jornal “A Tribuna” – Vitória-ES, numa série sob o título “Os
Bispos de Roma e a Ideologia do Poder”.
Nota e Comentários do IASD Em Foco
Temos aqui, na postagem destes excelentes artigos,
enfatizado reiteradamente a erudição, imparcialidade e honestidade intelectual
do Dr. Carlo Bússola. Tudo o que ele escreve aqui em termos de História e a
“ideologia de poder dos bispos” é fidedigno... Ocorre, porém, que, sem má fé ou
distorção da verdade, o pesquisador comete um equívoco – ainda que parcial –
quando faz as seguintes colocações:
É nos "disse que disse" que, nesta época, se
constroem as grandes verdades do cristianismo.
E assim o nosso cristianismo atual é um
conjunto artificial de idéias prováveis, ou, melhor, de suposições que o
fanatismo de cada época acrescentava como sendo verdades certas, mas que quase
sempre eram impostas pelas armas dos reis e mais tarde pela Inquisição e
foram aceitas pela força de tradição.
"A nossa fé é baseada na tradição... Aliás,
é a tradição que nos dá as Sagradas Escrituras".
Por mais que doa esta verdade aos católicos sinceros – e
eles existem aos milhões – isso não se aplica ao Cristianismo como um todo, mas,
sim, à Igreja Católica Apostólica Romana. Este poder que – como estava
profetizado centenas de anos antes – nas suas duas fases (imperial e papal)
substituiria a Verdade da Palavra de Deus pelas mentiras das tradições humanas.
Vejamos, de forma sucinta, o que diz a Bíblia sobre
isso:
“De um dos chifres saiu um chifre pequeno e se tornou
muito forte para o sul, para o oriente e para a terra gloriosa. Cresceu até
atingir o exército dos céus; a alguns do exército e das estrelas lançou por
terra e os pisou. Sim, engrandeceu-se até ao príncipe do exército; dele tirou o
sacrifício diário e o lugar do seu santuário foi deitado abaixo. O exército lhe foi entregue, com o sacrifício diário, por
causa das transgressões; e deitou por terra a verdade; e o que fez
prosperou” (Daniel 8:9-12).
Foi Roma, repetimos e provamos bíblica e profeticamente,
que nas suas duas fases – imperial e papal – atacou todo o conjunto de verdades
bíblicas e o jogou por terra. É o quarto animal de Daniel 7 (ler: Daniel 7:7)
exatamente o quarto Império Mundial e, das suas cinzas, surge um poder (Roma
papal) simbolizado pelo “chifre pequeno” ou “ponta pequena” (ler: Daniel 7:8,
Apocalipse 13:1-10).
Nosso Senhor Jesus e profetas e escritores
bíblicos já haviam advertido sobre o gravíssimo perigo de substituir a Palavra
de Deus pelas tradições humanas:
“Ele, porém, lhes respondeu: Por que transgredis vós o Mandamento de Deus, por causa da
vossa tradição? [...] E, assim, invalidastes a Palavra de Deus, por causa da vossa
tradição” (Mateus 15:3 e 6).
“Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração
está longe de Mim. E em vão me adoram, ensinando
doutrinas que são preceitos de homens” (Mateus 15:8-9).
“E em vão Me adoram, ensinando doutrinas que são
preceitos de homens. Negligenciando o mandamento de Deus, guardais a
tradição dos homens. E disse-lhes ainda:
Jeitosamente [com astúcia, falsificações da verdade, embustes,
enganos de toda sorte] rejeitais o preceito de Deus
para guardardes a vossa própria tradição” (Marcos 7:7-9).
“Cuidado que ninguém vos
venha a enredar com sua filosofia [os padres dão show de filosofia:
Tenho amigos que estudaram em seminários católicos e, hoje, são padres. Com eles é assim: Filosofia 10 X Bíblia 0] e vãs
sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme
os rudimentos do mundo e não segundo Cristo” (Colossenses 2:8).
Quando entram em campo questões religiosas, espirituais,
questões de salvação: das quais dependem o nosso destino terno, é bom lembrar
sempre que:
- O importante não é o que o presbítero
diz!
- O importante não é o que o missionário
diz!
- O importante não é o que o evangelista diz!
- O importante não é o que o bispo
diz!
- O importante não é o que o obreiro
diz!
- O importante não é o que o “apóstolo”
diz!
- O importante não é o que o padre
diz!
- O importante não é o que o pastor
diz!*
- O importante não é o que o teólogo
diz!
O importante é o que Deus diz!!! O importante, e nisto
está a nossa segurança eterna, é o que a Palavra de Deus diz!!! E ela nos
ordena:
“Retirai-vos dela, povo Meu, para não serdes
cúmplices em seus pecados e para não participardes dos seus
flagelos” (Apocalipse 18:4).
Ela nos indica para onde devemos ir e que caminho
devemos seguir, em meio aos enganos finais dos últimos dias:
“Aqui está a perseverança dos santos, os que guardam os Mandamentos de Deus e a fé em
Jesus” (Apocalipse 14:12).
* Digo isso na condição acadêmica e espiritual de quem
cursou 3 faculdades (reconhecidas pelo MEC, incluindo Teologia) e uma
Pós-Graduação em Ciências da Religião. Nesse caso não importa títulos ou
formação acadêmica: o que importa é o conhecimento da Palavra de Deus – deixar
Deus falar e o Espírito Santo agir...