14/12/2012

UMA SINGELA MENTIRA VIRA HISTÓRIA UNIVERSAL


Ao longo dos séculos, sem nenhuma vergonha, a arte foi usada para fazer História usando da mentira
Certo dia, quando eu era garoto, o meu professor de religião, Dom Emílio Cláudio, trouxe na sala de aula duas estampas coloridas, ambas mostrando o bispo de Roma junto do imperador Constantino.
Na primeira estampa via-se um enorme salão com 225 bispos, todos paramentados como se fossem para uma grande festa religiosa, sentados em forma circular ao redor do bispo de Roma.  
Na parte de baixo da estampa estavam os soldados armados de lança e no teto do salão, bem no meio de um clarão aparecia uma pomba simbolizando o Espírito Santo que lançava Seus raios de luz sobre o bispo de Roma, sentado num trono muito elevado com oito degraus, de modo que seus pés estavam à altura da cabeça dos demais bispos.
Ele estava paramentado com a roupa pontifical e tinha na cabeça uma tiara de ouro. A tiara, na sua origem, era um barrete que no Oriente antigo era símbolo da soberania plena e total.
Naquelas primitivas épocas, este barrete tinha a forma de bolbo. Os bispos de Roma começaram a usá-lo nas grandes cerimónias religiosas a partir de Anastácio II (496-498). Mais tarde a tiara foi encimada por três coroas ducais de ouro que representavam o poder espiritual, o poder político e o poder eclesiástico.   
 A tiara era rematada por um globo que representava o planeta Terra, simbolizando assim a autoridade total, universal e plena do bispo de Roma sobre todos os reis, bispos e povos do planeta.
Três degraus abaixo do trono do bispo de Roma a estampa apresentava o imperador Constantino envolto num amplo manto e tendo na cabeça uma simples coroa de príncipe. A estampa reproduzia o bispo de Roma, Silvestre I, presidindo, juntamente a Constantino, o Concilio de Nicéia do ano 325.
A segunda estampa colorida que Dom Cláudio nos apresentou não era tão bonita como a primeira porque as pessoas pareciam imóveis com gestos estilizados que as tornavam ridículas.
Um e outro garoto da sala começou a rir e todos teríamos acabado rindo, se não fosse o olhar do sacerdote. Nesta segunda estampa via-se o bispo de Roma sentado num trono bem alto, que recebia do imperador Constantino uma tiara.
O imperador estava ajoelhado, de cabeça descoberta, dando a entender que havia tirado a sua tiara e estava dando-a ao bispo de Roma como se estivesse oferecendo-lhe o poder político e temporal.
Nas duas estampas o bispo era Silvestre I, de Roma. O leitor perguntará: por que as duas estampas são mentirosas? Resposta: as duas estampas são mentirosas por vários motivos.
Primeiro: não foram pintadas na época de Constantino. A primeira, aquela do Concilio de Nicéia, é um afresco do século XVI e se encontra na igreja de São Martinho, em Roma; portanto, foi pintada 1.200 anos após o acontecimento, isto é, quando já havia sido realizada a ideologia do poder pontifício.
Naquele distante ano de 325 os bispos não vestiam nenhuma roupa sacerdotal ou episcopal e muito menos cobriam a cabeça. Vestiam-se como qualquer leigo; aliás, considerando as condições da época podemos dizer que, com exceção de Roma, até o ano de 325 vestiam-se pobremente; o luxo começou depois do Concilio de Nicéia.
Segundo: Silvestre I não participou do concilio; contentou-se em enviar alguns padres para saber de que se tratava. Era velho demais!
Terceiro: jamais Constantino se teria sentado alguns degraus abaixo da cadeira do bispo de Roma e muito menos em ato de ajoelhar-se, porque no seu modo de ver as coisas, era ele, o imperador, que levava à frente qualquer assunto religioso: fosse ele pagão ou cristão, não fazia diferença.
O bispo de Roma era para Constantino e para os demais bispos, um simples encarregado da Igreja de Roma, sem nenhuma autoridade ou projeção a não ser a honra (não o poder) que lhe vinha por estar em Roma. Noutras palavras: era Roma que honrava o bispo e não a presença do bispo que honrava Roma!
Quarto: durante o Concilio de Nicéia ninguém jamais perguntou o que pensava o bispo de Roma: ele era completamente desconhecido. Ora, isto é de uma importância histórica e teológica enorme tratando-se de uma reunião tão numerosa com bispos vindos de todos os cantos do império.
O historiador jesuíta padre L. Maimbourg, francês, escreveu em 1673 uma "Histoire de L'arianisme" onde lemos (capítulo I) que no Concilio de Nicéia Constantino dominava "como senhor de todos (...) representando perfeitamente a majestade de Deus (...) e abaixo dele, na sua ausência, ou mesmo estando ele presente, sentava Osias, bispo de Córdoba, emissário imperial em todos os concílios da época, que ocupava a cadeira principal por ser o deputado imperial. Ao bispo de Roma, nem sequer as decisões conciliares eram transmitidas".
Com efeito, não se tinha por ele maior consideração do que se tinha para os pobres bispos do interior.
É por este motivo que a primeira estampa que Dom Cláudio nos mostrou era mentirosa.
Mas a outra estampa também era mentirosa. Em primeiro lugar sabemos que é um afresco do ano de 1246 na igreja dos "Santi-quattro-coronati" em Roma.
Então foi pintada cerca de 900 anos depois do acontecimento de Nicéia, e precisamente numa época em que a Igreja de Roma havia aceitado a tese de que o bispo romano é o representante de Deus na Terra com a plenitude dos poderes eclesiásticos e políticos, podendo tanto nomear reis e imperadores como removê-los do trono.
Mas quem olhava a estampa compreendia que o poder político e temporal foi-lhe dado por Constantino. Noutras palavras; as terras ao redor de Roma foram presenteadas pelo imperador e a tiara que Constantino oferecia-lhe, tirando-a da sua cabeça, era o símbolo do poder temporal.
A estampa se refere à célebre doação de Constantino. Célebre porque foi tão bem inventada que até reis e imperadores acreditaram nela por centenas de anos.
Em segundo lugar, esta estampa não é verídica porque representa Constantino em ato de ajoelhar-se e o bispo de Roma sentado no trono bem acima do imperador: o que jamais aconteceu porque qualquer bispo não passava, para Constantino, mais do que um guardião da Igreja.
Com efeito, sabemos pela História que se Sta. Helena conseguiu fazer-lhe aceitar Jesus Cristo, ao menos em nível emocional, a aceitação do cristianismo como estrutura religiosa jamais foi aceita por Constantino.
A melhor prova disso é ter ele recebido o batismo pouco antes de morrer, mas não para tornar-se cristão e sim para ter seus pecados perdoados. Com efeito, é simplesmente falso pensar num Constantino que recebe o batismo para tornar-se "súdito" de um bispo!
Para concluir, não posso deixar de relatar o que me aconteceu certo dia enquanto estava fuçando nos velhos (e preciosos) "sebos" do Rio de Janeiro...
Aconteceu que encontrei um belíssimo livro ricamente encadernado que tinha por título: "II grande libro dei Concili" e por subtítulo: "Um capítolo della storia del mondo da immagini, edifici e documenti"; Edizioni Paoline; Roma; 1962; autor: Anton Henze.
Eram 300 páginas, metade das quais eram esplêndidas fotografias que salientavam diferentes momentos da história do bispo de Roma.
E assim, folheando as fotografias, encontrei as duas estampas que acabo de apresentar ao leitor: a fotografia número 5 representa o imperador Constantino oferecendo a tiara a Silvestre I; e a fotografia número 7 representa o papa Silvestre I, que preside o Concilio de Nicéia com o imperador Constantino sentado bem abaixo de seu trono.
Fotografias assim viajam pelo mundo afora criando ideias: ideias erradas, claro! Mas como ninguém explica, acontece que a imagem mesmo falsa, cria História.
Autor: Carlo Bússola, professor de Filosofia na UFES
 
Fonte: Publicado originalmente no jornal “A Tribuna” – Vitória-ES, numa série sob o título “Os Bispos de Roma e a Ideologia do Poder”.
 
Comentários do IASD Em Foco
Junto com a erudição do Dr. Carlo Bússola, enfatizamos a sua total isenção e honestidade intelectual [tão carente, diga-se de passagem, entre historiadores, teólogos, proclamados apologetas, pastores e outros líderes religiosos da atualidade].
 
Quanto a isso, veja-se a nota de advertência que com frequência aparece na maioria dos artigos da série. No entanto, ressalte-se que os fatos falam por si mesmo sobre a origem insidiosa deste sistema da falsa religião, como predita pelo profeta Daniel, apóstolo Paulo, João e outros (Daniel 7:8-10; Atos 20: 28-30; II Tessalonicenses 2:3-4 e 7-12; Apocalipse 13:1-10).
 
Dada a sua importância crucial, estes assuntos aqui abordados dizem respeito a todos os cristãos – católicos, evangélicos, ortodoxos, renovados, protestantes, etc. – independente da coloração ideológica ou denominacional; pois, a Bíblia afirma taxativamente que este sistema da falsa religião, erigido em cima da “ideologia do poder”, contaminou praticamente todas as religiões cristãs: “Seguiu-se outro anjo, o segundo, dizendo: Caiu, caiu a grande Babilónia que tem dado a beber a todas as nações do vinho da fúria da sua prostituição” (Apocalipse 14:6).  “... pois todas as nações têm bebido do vinho do furor da sua prostituição...” (Apocalipse 18:3, p.p.).
 
Fazendo, em tempo, uma correção no “endereço” desta solene mensagem de advertência, nós verificamos que ela se destina a todos os habitantes da Terra; afinal, agora nos derradeiros momentos da História o complexo babilónico da falsa religião abarcará toda a Terra e, portanto, todo habitante deste planeta terá que tomar a sua decisão de um lado ou do outro, a favor da Verdade (Apocalipse 14:12) ou do lado do erro (Apocalipse 14:9-11).
 
Repetimos: o domínio da falsa religião será planetário; é a globalização do erro: “Foi-lhe dado, também, que pelejasse contra os santos e os vencesse. Deu-se-lhe ainda autoridade sobre cada tribo, povo, língua e nação; e adorá-la-ão todos os que habitam sobre a Terra, aqueles cujos nomes não foram escritos no Livro da Vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo” (Apocalipse 13:7-8).
 
Em tempo, “vinho” em linguagem profética significa “doutrina” e, por conseguinte, a Bíblia afirma que, embora repudiem a idolatria e outras práticas abomináveis de Babilónia, suas “filhas”, praticamente todas as religiões ditas cristãs, beberam – assimilaram em seu corpo doutrinário – as principais doutrinas do “cardápio” de Babilónia.