01/04/2010

O MÉTODO DE ESTUDO DAS DOUTRINAS CRISTÃS BÍBLICAS

O que chamamos de método histórico-crítico é o método de estudo e pesquisa bíblica que procura levar em conta o contexto histórico que envolve o texto, fazendo uma avaliação acurada (crítica) de todas as relações desta informação com o sentido do texto. Uma ênfase quanto ao sentido gramatical e histórico do relato bíblico é o alvo deste método. Realiza-se a tarefa de um historiador, que avalia um documento antigo com o alvo de compreendê-lo. Isto revela pouco sobre como vamos trabalhar, já que esta metodologia é largamente empregada por "teólogos" que não crêem na inspiração plena das Escrituras. Apesar do mau uso do método por alguns, queremos empregar o método histórico-crítico na exegese por acreditarmos que ele fornece o significado original do texto. Usaremos este método orientados pela fé que já temos na absoluta inspiração e autoridade das Escrituras. Também acreditamos ser a humildade a maior virtude de um exegeta.
É um método histórico porque leva em conta a época e a situação original em que o texto foi escrito. A Bíblia é a palavra de Deus dada através das palavras de pessoas históricas (Hb 1.1-2). Assim, o trabalho de entender a Bíblia é o trabalho de um historiador. A história é uma ferramenta de trabalho. O próprio texto bíblico no geral contém elemento histórico suficiente para dar uma idéia da situação original, dispensando-nos do uso de muito material estranho. E necessário ser prudente ao utilizar "ajudas" ex¬ternas.
Dois elementos precisam ser levados em conta quanto tratamos da Palavra de Deus: sua particularidade histórica contrabalançada por sua validade eterna. A particularidade histórica diz respeito ao que estava acontecendo na situação original. Por exemplo, Paulo escreveu o livro de Gálatas para combater doutrinas judaizantes que se infiltravam na igreja. A relevância eterna leva em conta que mesmo em uma situação diferente, a mensagem de Gálatas tem importância para cada geração de cristãos.
Em último lugar, usaremos o método histórico na tentativa de entender cada texto da Bíblia na situação, pensamento e época da própria Bíblia.
Nosso método também é um método crítico porque requer o uso de nossas faculdades mentais em raciocínios, julgamentos, estudos e esforços. A eterna inteligência e bom senso de Deus estão refletidos no seu livro. É necessário que usemos a inteligência que ele nos deu para compreendê-lo. A palavra crítico tem geralmente uma coloração negativa. Não queremos usá-la desta forma. O método é crítico em avaliar os resultados obtidos e em pesá-los. Nunca deve tornar-se crítico contra a Bíblia.
O uso da razão deve ser subordinado à fé na revelação. Não podemos chegar a Deus com a razão; Deus é quem chega a nós com a revelação de sua razão, Jesus Cristo, o logos eterno (logos: palavra grega que pode significar razão).
Exegese e hermenêutica.
Nossa tarefa é dupla: Primeiro, descobrir o que o texto significava originalmente, esta tarefa é chamada exegese; em segundo lugar, devemos aprender a discernir esse mesmo significado na variedade de contextos novos ou diferentes dos nossos próprios dias, esta é a tarefa da hermenêutica. Em definições clássicas a hermenêutica abrange ambas as tarefas, mas em tratados recentes a tendência tem sido separar as duas.
Para nós, exegese é ler e explicar os textos em empatia (e simpatia) com os escritores bíblicos. O exegeta é primeiramente um historiador que analisa os documentos. Todavia, ele tem de ir além da análise impessoal: é necessário assumir a fé que o escritor possuía para entender seus escritos. A exegese é um trabalho literário-espiritual.
A hermenêutica é necessária para a exegese. Exegese é uma palavra que vem da língua grega, sendo composta da preposição EK (de) e da forma substantiva do verbo HEGEOMAI (ir, guiar, conduzir) e significa "conduzir para fora" o sentido original de um texto. Na exegese procuramos entrar no texto (EIS), e ficar nele (EN), para então sairmos dele (EK) tirando lições para nós. Hermenêutica é a síntese dos resultados da exegese, tornando-a relevante para o leitor, ou auditório.
Pressuposições.
Pressuposições são idéias, hipóteses ou fatos que aceitamos ou carregamos conosco antes de iniciar nossa análise de um texto. O bom exegeta procura libertar-se ao máximo deles para que a sua compreensão do texto não seja distorcida pela sua pré-compreensão. Um exemplo prático ajuda a ver a importância das pressuposições. Se um exegeta pressupõe que "milagres não podem acontecer", todo seu estudo dos evangelhos e de Atos vai
revelar ceticismo quanto aos fatos narrados e vai procurar explicá-los por meio de causas naturais, ignorância do povo, erro do escritor, etc. As pres¬suposições vão guiar nossa capacidade de entender e explicar o texto.
Por outro lado, as pressuposições existem e sempre existirão. O que importa é a sua validade. O critério da validade de uma pressuposição é a sua base cristológica, que Jesus Cristo é o filho de Deus. Devemos ler a história do Novo Testamento com a pressuposição cristológica revelada pelos escritores. Esta é uma pressuposição básica para entender o Novo Testamento, e até mesmo o Velho, tomadas as devidas precauções. A pressuposição cristológica é válida para sempre.
Quando as nossas pressuposições são iguais às pressuposições dos escritores do Texto Sagrado, temos as melhores condições possíveis para entender o que eles estão falando e escrevendo. Não há um raciocínio em círculo aqui. A fé em Cristo, mantida pelos escritores do Novo Testamento, precedeu a obra escrita que produziram sob a influência do Espírito Santo. Logo, para que possamos acompanhar o pensamento desses homens, precisamos participar da fé que tiveram.
Ver o texto como o autor o viu é o nosso alvo. Buscando as pressuposições do autor, não entraremos em choque com ele. Encontrar as pres¬suposições do escritor pode ser a chave para não introduzir nossas idéias no texto. Cristo é o princípio de unidade e da verdade na interpretação da Bíblia.