12/02/2013

A Origem do Poder Temporal da Igreja Romana

Foi com a bênção do rei dos francos que o bispo de Roma também se tornou “rei”
O bispo romano Zacarias sucedeu a Estêvão II (752-757), que teve problemas de ordem burocrática porque não foi consagrado. Por isso alguns historiadores católicos recusam a sua integração no número dos bispos romanos.
 
Mas outros historiadores, como o cardeal Barénio, o padre Pétan e o Panvini, entenderam que a eleição canónica é suficiente e que a consagração nada lhe acrescentava. Também era assim nos primeiros séculos.
 
Temos, por exemplo, uma carta de São Cipriano, falecido em 258, que diz: "Os fiéis não só têm por direito divino a faculdade de escolher os ministros, como também de depô-los, mesmo consagrados, quando se tornam indignos".
 
(Parêntese: este direito que os fiéis realmente tinham nos primeiros dois séculos acabou quando começou a prevalecer a ideologia do poder centralizado no bispo).
 
Também Leão I, bispo de Roma, escreveu que a eleição por si confere a dignidade episcopal e acrescenta que a nomeação de um bispo deve ser feita por todos os fiéis de uma cidade e chega a anatematizar aqueles que tentam tirar este poder aos fiéis.
 
Estêvão II teve um papel muito importante na formação do território que constituía o Estado Pontifício. Ele, temendo que os longobardos ocupando Roma e tornando-se senhores da Itália reduzissem a Santa Sé e seu bispo a um bispado local sem importância, apelou para o imperador grego Constantino V; mas esse nem resposta lhe deu.
 
Foi assim que Estêvão II se voltou para os francos e pediu ajuda  a Pepino o Breve, que venceu os longobardos, e em 756 já havia  dado ao bispo de Roma toda a Itália Central com a famosa carta chamada "Doação de Pepino" que Roma fez passar como sendo uma restituição de territórios conquistados pelos lombardos mas que haviam sido doados à Sé de Roma quando era bispo Silvestre I (314-335) pelo imperador Constantino (Doação de Constantino).
A Estêvão II sucedeu Estêvão III (768-772) com o qual finalmente começa o tão suspirado, desejado e planejado poder temporal pontifício! A primeira coisa que Estêvão III fez foi trocar os selos de lacre das cartas pontifícias pelos selos de chumbo.
 
 
Era o símbolo de força e de grandeza. Então, ele se preocupou com os longobardos, cujo governo era tão difícil (ou mais) do que o dos imperadores do Oriente.
 
Longobardos e Oriente infernizaram a Sé de Roma proibindo-lhe, na prática, a sua realização política na Itália. Então se apresentou a Astolfo, rei dos longobardos, e mediante valiosos presentes conseguiu arrancar-lhe um juramento de trégua de quatro anos.
 
Mas os generais gregos, do imperador do Oriente, fizeram a mesma coisa. Então Astolfo rompeu a trégua com Estêvão III e foi conquistar Ravena e o Exarcato. Não tendo encontrado ninguém que o impedisse, resolveu conquistar a Itália e, antes de mais nada, reivindicar a soberania sobre Roma.
 
Estêvão III tremeu nas bases e mandou logo embaixadores para Constantinopla a fim de ser socorrido pelo imperador Constantino, que por estar ocupado em guerra contra os árabes, mandou um delegado imperial para convencer Astolfo a restituir as cidades, a praça e a fortaleza à Sé de Roma. Mas Astolfo conseguiu enganar o delegado imperial porque queria consolidar suas conquistas na Itália.
 
O delegado imperial voltou para Constantinopla sem ter recebido nenhuma satisfação de Astolfo. Por outro lado, ele odiava a Igreja Católica romana porque ele era iconoclasta. Então abandonou Estêvão III ao seu destino, prevendo como seria logo destruído pelos longobardos.
 
Astolfo, para se vingar, invadiu imediatamente Roma e obrigou seus habitantes a reconhecê-lo como seu soberano, sob pena de morte. As tropas de Estêvão III fugiram e ele ficou encerrado numa torre por muito tempo.
 
Então, abandonado propositadamente pelo imperador e prisioneiro de Astolfo, apelou para Pepino, embora soubesse que Pepino era um traidor e que nada se importava com Roma. Escreveu-lhe pedindo socorro e prometendo-lhe, em nome de São Pedro, o perdão de todos os pecados que tivesse cometido e a felicidade eterna no Céu!
 
Nesse meio tempo um embaixador do imperador Constantino chegou a Roma ordenando que Estêvão III fosse logo à corte de Astolfo para receber de volta Ravena, o Exarcato e as demais cidades que ao longo dos anos os imperadores gregos haviam dado à Sé de Roma.
 
Sabendo dos acontecimentos, Astolfo mandou a Estêvão III um salvo-conduto para ele e para os seus secretários, garantindo-lhe que o receberia em Pavia com todas as honras.
 
Em 14 de outubro de 754 Estêvão III empreendeu a viagem para Pavia acompanhado dos embaixadores francos que haviam sido enviados por Pepino. Mal chegou em Pavia e Astolfo mandou avisá-lo que havia perdido a viagem se vinha para pedir a restituição de Ravena e do Exarcato.
 
Estêvão respondeu que tinha vindo por ordem do imperador. Astolfo persistiu na recusa dizendo que pouco se importava com as ameaças ao imperador. Foi então que os embaixadores francos disseram a Astolfo que o rei Pepino havia ordenado que o bispo de Roma, Estêvão III, fosse conduzido até a França.
 
Astolfo ficou cheio de raiva, mas teve que conter-se e deixou Estêvão III partir. No norte da Itália já era inverno. Assim mesmo passaram os Alpes cheios de neve e chegaram ao mosteiro de São Maurício em Valais. De lá foram ao castelo de Pouthion,  que era uma das residências dos reis francos. O rei com toda a família veio-lhe ao encontro (quem nos conta a cena é Anastácio, o Bibliotecário) a uma légua do castelo de Pouthion. Então, a pé, de cabeça descoberta, o rei segurou as rédeas do cavalo de Estêvão III até ao palácio.
 
No dia seguinte, [o papa] Estêvão e os bispos que o acompanharam, com a cabeça coberta de cinza e uma roupa miserável, se prostraram aos pés de Pepino, conjurando-o em nome de Deus que os libertassem dos longobardos.
 
Estêvão III conservou-se prostrado com o rosto no chão até que Pepino o levantou (e este era o sinal de proteção dos reis francos). Parêntese: nasceu aqui o conceito de "França, filha primogénita da Igreja Católica" que dura até hoje e nem Napoleão conseguiu cancelar!).
 
Então Pepino mandou seus embaixadores dizerem a Astolfo que devia restituir as terras e as cidades à Sé de Roma. Mas Astolfo recebeu muito mal os embaixadores francos.
 
Então Pepino partiu para uma guerra terrível a fim de "libertar a Santa Igreja". Mas, antes de partir para a Itália, fez questão de assinar o auto das doações das terras da Sé de Roma, em seu nome e em nome de Carlos e Carlomano, seus filhos.
 
Astolfo se assustou e prometeu restituir tudo com exceção do Exarcato de Ravena, dizendo que essa questão não lhe cabia, nem a ele, nem a Pepino. Mas Pepino jurou que seu exército iria conquistar toda a Itália Central para doá-la ao papa.
 
Então houve uma festa solene em que Estêvão III consagrou rei Pepino e consagrou também Carlos e Carlomano e a sua mulher Bertrade. Depois de ter-lhe imposto as mãos, Estêvão declarou em nome de Deus que era proibido aos francos, sob pena de excomunhão e condenação eterna, escolherem reis de outra raça. Em seguida nomeou Carlos e Carlomano "Patrícios Romanos" e Estêvão III foi padrinho de batismo dos dois príncipes.
 
Pepino desceu na Itália com um poderoso exército; venceu Astolfo e o obrigou a restituir todas as terras ao bispo de Roma.
 
Foi assinado um tratado na presença dos embaixadores do imperador Constantino, que se encontravam lá para pedir as mesmas terras em nome do imperador grego. Mas tão logo Pepino voltou à França, Astolfo se apoderou de novo de Roma e Pepino teve que voltar novamente à Itália.
 
Mas dessa vez, além de Ravena e o Exarcato a Sé de Roma recebeu de presente todas as terras que formam a Itália Central e que até o ano de 1870 tornaram-se o conhecido Estado Pontifício.
 
Astolfo morreu logo de tristeza e Pepino e seus descendentes ficaram conhecidos como os defensores do Património de São Pedro.
 
E assim a ideologia do poder eclesiástico ficava firmemente estabelecida sob o patrocínio e com o consentimento do mais poderoso rei da Europa e do imperador de Constantinopla.
Autor: Carlo Bússola, professor aposentado de Filosofia da UFES
 
Fonte: Publicado originalmente no jornal “A Tribuna” – Vitória-ES, numa série sob o título “Os Bispos de Roma e a Ideologia do Poder”.
 
Nota e Comentários do IASD Em Foco
Temos aqui, na postagem destes excelentes artigos, enfatizado reiteradamente a erudição, imparcialidade e honestidade intelectual do Dr. Carlo Bússola. Tudo o que ele escreve aqui em termos de História e a “ideologia de poder dos bispos” é fidedigno...
 
Analisem com “espírito desarmado” e sinceridade as seguintes colocações do Dr. Carlo Bússola:
 
“[...] por 870 anos nenhum concílio ecuménico foi convocado pelo bispo de Roma. Os grandes concílios e sínodos foram sempre convocados pelos imperadores sem perguntar nada ao bispo de Roma” (A História dos Papas, artigo 30).
 
“[...] pelo prazo de mil anos nenhum bispo de Roma dirigiu decisões sobre matéria de fé e costumes à Igreja Universal” (A História dos Papas, artigo 30).
 
Foi somente no Concilio de Éfeso (431) que os delegados romanos declararam que "Pedro, a quem Cristo havia dado o poder de atar e desatar, continua a viver e julgar em seus sucessores" (Mansi; "Concilia Oecumenica"; IV; pág. 366). Mas ninguém lhes deu importância (A História dos Papas, artigo 30).
 
O bispo romano Gregório Magno (590-604) rejeitou com horror o título de "bispo ecuménico" (universal) entendido como plenitude da autoridade eclesiástica. Ele chegou a chamar este título de "criminoso e blasfemo a Deus” (A História dos Papas, artigo 30).
Por mais que esta verdade doa aos católicos sinceros – e eles existem aos milhões – isso não se aplica ao Cristianismo como um todo, mas, sim, à Igreja Católica Apostólica Romana. Este poder que, como estava profetizado centenas de anos antes, nas suas duas fases (imperial e papal) substituiria a Verdade da Palavra de Deus pelas mentiras das tradições humanas.  
 
Vejamos, de forma sucinta, o que diz a Bíblia sobre isso:
“De um dos chifres saiu um chifre pequeno e se tornou muito forte para o sul, para o oriente e para a terra gloriosa. Cresceu até atingir o exército dos céus; a alguns do exército e das estrelas lançou por terra e os pisou. Sim, engrandeceu-se até ao príncipe do exército; dele tirou o sacrifício diário e o lugar do seu santuário foi deitado abaixo. O exército lhe foi entregue, com o sacrifício diário, por causa das transgressões; e deitou por terra a verdade; e o que fez prosperou” (Daniel 8:9-12).
 
Foi Roma, repetimos e provamos bíblica e profeticamente, que nas suas duas fases – imperial e papal – atacou todo o conjunto de verdades bíblicas e o jogou por terra. É o quarto animal de Daniel 7 (ler: Daniel 7:7) exatamente o quarto Império Mundial e, das suas cinzas, surge um poder (Roma papal) simbolizado pelo “chifre pequeno” ou “ponta pequena” (ler: Daniel 7:8, Apocalipse 13:1-10).
 
Nosso Senhor Jesus e profetas e escritores bíblicos já haviam advertido sobre o gravíssimo perigo de substituir a Palavra de Deus pelas tradições humanas:
 
“Ele, porém, lhes respondeu: Por que transgredis vós o Mandamento de Deus, por causa da vossa tradição? [...] E, assim, invalidastes a Palavra de Deus, por causa da vossa tradição” (Mateus 15:3 e 6).
 
“Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de Mim. E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens” (Mateus 15:8-9). 
 
“E em vão Me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens. Negligenciando o mandamento de Deus, guardais a tradição dos homens. E disse-lhes ainda: Jeitosamente [com astúcia, falsificações da verdade, embustes, enganos de toda sorte] rejeitais o preceito de Deus para guardardes a vossa própria tradição” (Marcos 7:7-9).
 
“Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia [os padres dão show de filosofia: Tenho amigos que estudaram em seminários católicos e, hoje, são padres. Com eles é assim: Filosofia 10 X Bíblia 0] e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo” (Colossenses 2:8). 
 
Quando entram em campo questões religiosas, espirituais, questões de salvação: das quais dependem o nosso destino terno, é bom lembrar sempre que:
 
- O importante não é o que o presbítero diz!
- O importante não é o que o missionário diz!
- O importante não é o que o evangelista diz!
- O importante não é o que o bispo diz!
- O importante não é o que o obreiro diz!
- O importante não é o que o “apóstolo” diz!
- O importante não é o que o padre diz!
- O importante não é o que o pastor diz!
- O importante não é o que o teólogo diz!
O importante é o que Deus diz!!! O importante, e nisto está a nossa segurança eterna, é o que a Palavra de Deus diz!!! E ela nos ordena:
“Retirai-vos dela, povo Meu, para não serdes cúmplices em seus pecados e para não participardes dos seus flagelos” (Apocalipse 18:4).
Ela nos indica para onde devemos ir e qual caminho devemos seguir, em meio aos enganos finais dos últimos dias:
“Aqui está a perseverança dos santos, os que guardam os Mandamentos de Deus e a fé em Jesus” (Apocalipse 14:12).