O dogma católico é claro: "É objeto de fé católica que
por vontade de Jesus, Pedro devia ter perpetuamente um sucessor no cargo de
pastor supremo e este sucessor é o bispo de Roma". (B. Bartmann;
"Teologia Dogmática" vol. II; Ed. Paulinas; SP; 1964; pág. 481).
Com efeito, o Concilio Vaticano I decretou isto na sessão 4,
C.2. Este decreto inclui um ponto dogmático: que o apóstolo Pedro sempre terá
um sucessor; e um ponto histórico: que o bispo de Roma é o sucessor de São
Pedro.
Os teólogos [católicos] provam o primeiro ponto pelo fato de
que a Igreja de Jesus, sendo eterna, terá eternamente alguém que cuide dela e
este só poderá ser o sucessor de São Pedro. Também os teólogos provam o segundo
ponto dizendo que Pedro foi bispo em Roma, onde morreu mártir, deixando um
outro bispo como seu sucessor.
O primeiro ponto ainda hoje é muito questionado. Os
católicos afirmam e os racionalistas negam; ainda mais, dizem que nas palavras
de Jesus nunca aparece a suposta figura do sucessor. O que interessa, agora, é
saber se realmente Pedro esteve em Roma como bispo ou como
"visitante". Nesse caso, portanto, a questão é histórica.
Temos quatro escritores que nos relatam que na sua época
havia uma tradição que afirmava que Pedro tinha estado em Roma; são eles:
Orígenes no III século; Lactâncio e Eusébio, ambos no IV século; Gerónimo, no V
século.
É importante frisar
que se trata de historiadores que viveram 300-400 anos depois de São Pedro e
que relatam "tradições".
Orígenes (que morreu 187 anos depois da morte de São Pedro)
costumava dizer que "Pedro foi crucificado em Roma de cabeça para baixo, a
pedido seu" (Eusébio; II; 25. Veja também: Eusébius; "Eclesiastical
History"; New York: 1839).
Lactâncio (que morreu 258 anos depois da morte de São Pedro)
opina (isto é: acha) que Pedro foi a Roma no tempo do imperador Nero (veja:
Lactantius: "De mortibus persecutorum"; 2. Veja também: Lactantius;
"Works", em "Ante-Nicene Christian Library"; vols. XXX-II;
London; 1881).
Gerónimo (que morreu 353 anos após a morte de São Pedro) diz
que Pedro chegou em Roma no ano 42 d.C. (Shot-well J. And Loomis L.; "The
see of Peter";Columbia U.P.;1927; pg. 64-65).
Eusébio (que morreu em 340, isto é: cerca de 270 anos após a
morte de São Pedro, no começo do III livro da "História Eclesiástica"
escreve: "Parece (note-se este "parece"!) que Pedro tenha
pregado o evangelho aos judeus da dispersão e por fim foi para Roma, sendo lá
crucificado de cabeça para baixo".
E acrescenta algo importantíssimo: "Depois do martírio
de Pedro e Paulo, Lino foi designado como primeiro bispo de Roma".
Então, se Lino foi o primeiro, Pedro era apenas, "visita" e
não bispo de Roma!
O historiador Peter De Rosa em seu livro "Vicars of
Christ" (London; Bantan Press; 1988) à página 15 diz que segundo vários
autores Pedro só teria chegado em Roma nos últimos anos de sua vida e a sua
função de bispo não passa de uma lenda; prova disto é que seu nome não aparece
nas listas mais antigas da sucessão episcopal.
Mas precisava dar vida e força a uma lenda para fundamentar
a ideologia do poder, afirmam os racionalistas... É o que veremos mais adiante.
O que nos interessa agora é a história de Pedro em Roma.
A arqueóloga romana Margherita Guarducci, professora de
Epigrafia e Antiguidades Gregas na Universidade de Roma, que trabalhou junto a
outros arqueólogos nas escavações feitas na Basílica de São Pedro para
encontrar os restos mortais do apóstolo Pedro, escreveu dois artigos na revista
internacional "Trinta dias na Igreja e no mundo", precisamente:
fevereiro-1990, pg. 40-45 e agosto-1991, pg. 66-69.
O que vou relatar aqui é o resumo desses dois artigos.
Papa Pio XII "superando o receio e o acanhamento de
seus predecessores" ordenou as escavações sob o altar-mor da Basílica de
São Pedro. Infelizmente as escavações foram comprometidas pelo uso de
ferramentas inadequadas e pela ausência de rigor científico e falta de coesão
entre os arqueólogos.
Todavia, o local do túmulo foi encontrado em 1950 e Pio XII
deu a notícia ao mundo. Apressadamente. Apressadamente, pois os ossos de Pedro
não haviam sido encontrados. As obras pararam.
Dois anos mais tarde, em 1952, a arqueóloga Margherita
Guarducci reiniciou as buscas e encontrou no muro do túmulo a inscrição em
grego "Petrós ení" (Pedro está aqui); mas os ossos não estavam...
Somente em 1953 foi encontrado, numa caixa de madeira, parte
de um esqueleto que examinado por antropólogos revelou pertencer a um só
indivíduo de sexo masculino, de cerca de um metro e sessenta e cinco de altura,
de constituição robusta e de idade entre 60 e 70 anos. A ossada estava
envolvida em precioso manto de púrpura bordado em ouro.
A descoberta provocou toda uma série de contestações dentro e fora da
Igreja Católica.
A arqueóloga comunicou oficialmente a descoberta a Paulo VI,
que lhe disse: "A senhora não sabe quanta alegria me dá!... Aqueles ossos
são como ouro para nós!" E comprometeu-se a dar logo o anúncio numa sessão
do Concilio Vaticano II. Mas o anúncio não foi dado.
Certamente foi pressionado a esperar mais, talvez porque
isso poderia aborrecer os protestantes, que sempre se pronunciaram contra essa
tese.
Finalmente no dia 26 de junho de 1968 Paulo VI anunciou
publicamente que os restos mortais de São Pedro haviam sido encontrados debaixo
do altar-mor da Basílica de São Pedro. Aos poucos, porém, tudo foi esquecido.
A Santa Sé proibiu que a arqueóloga Margherita Guarducci
visitasse os subterrâneos. Dez anos mais tarde, querendo completar seu livro
"Pedro no Vaticano" com fotografias tiradas no local, ela soube que
não poderia fotografar nada. Recorreu aos cardeais A. Casaroli e J. Ratzinger
[atual papa, Bento 16] que queriam ajudá-la; mas não conseguiu nada!
Quando Paulo VI morreu, o silêncio voltou a reinar absoluto
sobre as descobertas. 0s guias que acompanham os peregrinos aos subterrâneos
não sabem nada ou estão proibidos de falar sobre as descobertas. Alguns até
"dizem que a autenticidade dos ossos não foi confirmada" (30 dias,
etc; fev. 1990; pg. 45; III Col.)
Então Pedro esteve, ou não, em Roma? A citada revista (que é
ultraconservadora) no número de março 1996, pg. 50, escreve: "Todavia
enquanto sobre Paulo temos notícias mais precisas (...) quanto à presença de
Pedro em Roma não possuímos testemunhas de contemporâneos".
Por isso, acrescenta, "é difícil afirmar quando Pedro
chegou em Roma. O certo é que Pedro não ficou ininterruptamente em Roma já que
em 49 o encontramos em Jerusalém".
Tudo não passa de "tradição"... disse que disse...
Por isso os racionalistas dizem que provavelmente Pedro veio a Roma como
"visita", jamais como bispo.
A tradição nasceu numa época que representava o momento
melhor na história da Igreja: o imperador Constantino, amigo do papa Silvestre
I, bispo de Roma; em seguida: Teodósio e Justiniano.
Era o momento histórico único para colocar as bases da
ideologia do poder eclesiástico romano.
Autor: Carlo Bússola,
professor de Filosofia na UFES
Fonte: Publicado
originalmente no jornal “A Tribuna” – Vitória-ES, numa série sob o título “Os
Bispos de Roma e a Ideologia do Poder”.
Comentários do IASD
Em Foco
Sabemos que há muitos cristãos sinceros entre os católicos –
com os quais o Espírito Santo tem trabalhado e pelos quais temos orado
diariamente – e, quando falamos isso, nos referimos tanto aos membros, leigos,
como ao clero desta Igreja.
Agora, embora seja bastante difícil e até doloroso admitir
isso – como o foi para Martinho Lutero, que era padre e teólogo católico, e
para milhões de outros cristãos egressos do catolicismo através dos séculos –
toda a base desta Igreja foi construída em cima de imposturas, falsos
testemunhos, adulteração dos fatos, mentiras e desvios doutrinários.
Até mesmo quanto à tradicional e arrogante alegação feita
pelos líderes e membros de que a Igreja Católica Apostólica Romana é a primeira
e única Igreja instituída por nosso Senhor Jesus Cristo, como se pode ver
claramente a partir desta criteriosa obra de pesquisa documental do Professor
Carlo Bússola, a sua fragilidade e/ou total inconsistência vem à tona com
força; ela torna-se evidente e patente, quando confrontada com a pregação,
testemunho e estilo de vida dos primeiros (cristãos) seguidores de Cristo.
Nesse sentido, a Bíblia é clara e taxativa: “... aquele que
diz que permanece nEle [é cristão], esse deve andar assim como Ele andou” (I
João 2:6).
O próprio Cristo torna isso claro ao definir em termos
espirituais quem são e como agem, de fato, os Seus verdadeiros irmãos, Sua
verdadeira família, aqui na Terra: “Falava ainda Jesus ao povo, eis que Sua mãe
e Seus irmãos estavam do lado de fora, procurando falar-lhe. E alguém lhe
disse: Tua mãe e Teus irmãos estão lá fora e querem falar-Te. Porém Ele
respondeu ao que lhe trouxera o aviso: Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?
E, estendendo a mão para os discípulos, disse: Eis minha mãe e meus irmãos.
Porque qualquer que fizer a vontade de Meu Pai celeste, esse é Meu irmão, irmã
e mãe” (Mateus 12:46-50).
Dessa forma, a
verdadeira sucessão apostólica é encontrada tão somente naqueles que vivem e
ensinam a doutrina dos apóstolos. “À lei e ao testemunho! Se eles não falarem
desta maneira, jamais verão a alva” (Isaías 8:20).
Para Saber Mais Sobre o Tema Tratado Neste Artigo: