11/08/2011

A IGREJA DO “DESERTO” ENTRE O ANO 160 E O SÉCULO XII

Não é fácil traçar um lugar exato para o movimento dos anabatistas, pois os mesmos mudavam-se durante os períodos de graves perseguições. Outro problema é o apelido que eles levavam. Houve tempo em que mais de um apelido foi usado para designar o mesmo grupo de pessoas, é o caso dos montanistas na Ásia, Paulicianos na Arménia e Donatistas na África do Norte, todos viveram na mesma época entre os séculos IV ao VIII. No período que vai desde o ano 160 até 1100, houve pelo menos quatro grandes e influentes grupos de anabatistas. São eles: Os Montanistas - principalmente na Ásia Menor; Os Novacianos - Na Ásia Menor e na Europa; Os Donatistas - por toda a África do Norte; e os Paulicianos - primeiramente no Médio Oriente, indo para o centro europeu e de lá para os Alpes no sul e regiões campestres no norte da Europa.

Os apelidos que receberam derivavam-se ou de um nome pessoal (exemplo: Donatistas de Donato) ou podia ser derivado de um lugar (exemplo: Albingenses da cidade de Albi no sul da França). Porém, o que mais importava nestes quatro grupos, não era o nome que recebiam, mas se realmente eram fiéis às doutrinas da Bíblia.

OS ANABATISTAS CONHECIDOS COMO MONTANISTAS.
Oficialmente os montanistas foram os primeiros cristãos a serem chamados de anabatistas pelos cristãos infiéis ou hereges. O apelido montanista vem do nome próprio MONTANO, que foi um pastor frígio que viveu por volta de 156 A.D.

Foi um movimento que varreu toda Ásia Menor num momento em que as igrejas estavam a ser destruídas pelas heresias da Salvação pelo batismo e a idéia de um bispo monárquico. Os montanistas insistiam em que os que tivessem decaído da primeira fé deveriam ser batizados de novo.

O historiador contemporâneo Earle E. Cairns diz que o movimento foi uma tentativa de resolver os problemas do formalismo na igreja e a dependência da igreja da liderança humana quando deveria depender totalmente do Espirito Santo. E também acrescentou que o montanismo representou o protesto suscitado dentro da igreja quando se aumenta a força da instituição e se diminui a dependência do Espirito Santo. (O Cristianismo através dos Séculos, pg 82 e 83).

Como a sua mensagem era uma necessidade para as igrejas o movimento espalhou-se rápidamente pela Ásia Menor, África do Norte, Roma e Oriente. Algumas igrejas grandes chegaram mesmo a serem chamadas Montanistas. Foi o caso da igreja de Éfeso. Tertuliano, considerado um dos maiores Pais da Igreja, por ser bom estudante da Bíblia, atendeu aos apelos do grupo e tornou-se montanista. Apesar de serem radicais quanto as regras de fé de uma igreja eram pessoas humildes e mansas.

As igrejas erradas reagiram contra esse movimento. No concílio de Constantinopla, em 381 (portanto nesta época a igreja e o Estado já estavam casados um com o outro), os pastores das igrejas heréticas ou católicas declararam que os montanistas deviam ser olhados como pagãos, serem julgados e mortos.

As igrejas erradas tinham verdadeiro ódio aos montanistas. O próprio Montano é visto como um arqui-herege da Igreja. Os livros inventam e condenam o movimento chamando-lhe pagão e anti-cristão. Na verdade pagãos e anti-cristãos eram os membros das igrejas erradas. Assim que as igrejas erradas casaram-se com o Estado veio a perseguição das mesmas contra os montanistas.

Vale um ressalvo ao amigo leitor. Muitas enciclopédias, ou livros, mencionam coisas ruins sobre grupos anabatistas (tais como: Montanistas, Donatistas, Novacianos, Cátaros, Paulicianos, Valdenses, Albingenses, e até mesmo os Anabatistas do século XVI). Temos que lembrar que faz parte da natureza corrompida do homem culpar os outros pelos seus erros, bem como, difamar o outro para salvaguardar a sua vida ou a sua integridade diante dos outros. Vejamos o caso dos judeus no tempo de Cristo. Os tais, malignamente mataram o Senhor Jesus, e, sabendo da ressurreição, colocaram vigias para guardarem o túmulo (Mat. 27:62-66). Não podendo evitar que Jesus saísse de lá, resolveram difamar os seus discípulos, pagando aos guardas que mentissem, dizendo terem roubado o seu corpo (Mat. 28:11-15). Não fosse a Bíblia, a Palavra de Deus, testemunhar que era mentira o que diziam os judeus, e então, estaríamos todos a pensar que Jesus nunca ressuscitou. Aliás, este ainda era o pensamento no tempo do apóstolo Paulo (Actos 25:19), sendo que o próprio Pôncio Festo, governador da Judéia, acreditava nesta mentira inventada pelos judeus. Portanto, não podemos acreditar nas enciclopédias e livros que são escritos por católicos ou protestantes, os quais, participaram de massacres contra os anabatistas. Os Cátaros ? também conhecidos como albingenses por exemplo, foram terrivelmente esmagados numa cruzada ordenada pelo Papa Inocêncio III. Foi um grupo praticamente exterminado numa das mais cruéis e sangrentas ações assassinas já vista no
mundo religioso. Não contentes com isso, os escritores católicos passaram para as suas sucessivas gerações, que os pacíficos cátaros, eram homens pagãos, sem Deus, descendentes do Maniqueísmo. E porquê? Porque assim eles não são discriminados. Se não são discriminados pelas suas atitudes, logo, não são acusados e mal vistos por uma sociedade que aceita a testemunha viva que mente e rejeita a testemunha morta que não se pode defender. Esse é um grande golpe do catolicismo da era medieval. Qual golpe? O golpe da testemunha morta. A testemunha morta é a melhor testemunha que existe. Porquê? Porque testemunha morta não fala, não escreve, não vai a tribunais, e não pode pedir que se faça justiça. A melhor coisa para o assassino é que a sua testemunha morra. Assim ela não o acusa. E melhor ainda, ela não pode defender-se de nenhuma das mentiras que o assassino inventa. Não é de admirar que algumas enciclopédias e livros falam tão mal de alguns grupos anabatistas. Estão todos ligados e envolvidos na mentira. Peço que o leitor reflita: Quem estaria com a verdade? Os Cátaros, os Paulicianos e os Anabatistas do século XVI, ou a podre Igreja Católica que tem pervertido a verdade de Deus em mentira, tais como: Purgatório, adoração a Maria, Adoração a imagens, Imaculada Conceição, e etc., etc., etc.?. Quem será que mente? Que tal pensar e medir as coisas como Cristo ensinou: Acautelai-vos porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores. Por seus frutos os conhecereis. Porventura colhem-se uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos? (Mat. 7:15-16). Se o leitor concorda com o fruto produzido pelo catolicismo (idolatria, mentira, egoísmo, entre outros), os quais são mencionados como obras da carne (Gálatas 5:19-21), infelizmente este estudo não o poderá ajudar. Mas caso o leitor esteja resolvido a olhar com os olhos da fé sobre estes erros e condená-los, então, continue a ler.

OS ANABATISTAS CONHECIDOS COMO NOVACIANOS.
O segundo grupo de anabatistas oficialmente conhecidos são os novacianos. Assim como os montanistas este apelido é proveniente do nome próprio Novácio. Novácio foi um pastor da Ásia Menor que viveu por volta do ano 251 A.D. Pouco sabemos sobre a sua pessoa, mas a julgar pelos membros da sua igreja foi um homem fiel a Deus. Os novacianos foi o primeiro grupo a ser chamado de catharis, ou seja, os puros. Isso devido à pureza de vida que levavam. Temos algumas informações a respeito destes anabatistas pelos maiores historiadores da historia da Igreja:

Mosheim, Vol. I, pag 203
Rebatizavam a todos que vinham do Catolicismo.

Orchard em Alix´s Piedmont C 17, pg. 176
As igrejas assim formadas sobre o plano da comunhão restrita e rígida disciplina obtiveram a alcunha de puritanos. Foram a corporação mais antiga das igrejas cristãs das quais temos qualquer notícia. No ano 254 esses dissidentes (cristãos verdadeiros) são acusados de terem contaminado a França com as suas doutrinas, o que nos ajudará no estudo dos albingenses...
Estas igrejas existiram durante sessenta anos sob um governo pagão, durante este tempo os velhos interesses corruptos em Roma, Cartago e outros lugares não possuíam meios senão os da persuasão e da censura para pararem o progresso dos dissidentes. Durante este período as igrejas novacianas foram muito prósperas e foram plantadas por todo o império romano. É impossível calcular o benefício do seu serviço à comunidade. Conquanto rígidos na disciplina, cismáticos no caráter, foram achados extensivos e numa condição florescente quando Constantino subiu ao trono em 306 A.D.

W. N. Nevins, comenta que:
Na conclusão do quarto século tinham os novacianos três ou quatro igrejas em Constantinopla, assim como em Nice, Nicomédia, Cocíveto e Frigia, todas elas grandes e extensas corporações, além de serem muito numerosas no Império Ocidental. Havia diversas igrejas em Alexandria no século quinto. Aqui Cirilo, ordenado bispo dos Católicos Romanos, mandou fechar as igrejas dos novacianos. O motivo foi o rebatismo dos católicos. Foi lavrado um édito em 413 pelos imperadores Teodósio e Honório declarando que todas as pessoas rebatizadas e os rebatizadores seriam punidos com a morte. Conforme, Albano, zeloso ministro com outros foi assim punidos por batizar. Como resultado da perseguição nesse tempo muitos abandonaram as cidades e buscaram retiro no campo e nos Vales do Piemonte, onde mais tarde foram chamados valdenses.

O Dr. Robinson em Eclesiastical Reserches, 126 traça a sua continuação até à Reforma e a aparição do movimento anabatistas do século XVI. E acrescenta: Depois quando as leis penais os obrigaram a esconder-se em lugares retirados e a adorarem a Deus secretamente, foram designados por vários nomes.

Parece que o movimento dos novacianos, apesar de iniciar um século depois do movimento montanista, cresceu mais que o primeiro, pelo menos no Ocidente. Enquanto o Montanismo crescia na Ásia Menor e no Oriente, os novacianos cresciam mais no Ocidente. Um terceiro grupo, os donatistas, cresciam mais na África do Norte.

OS ANABATISTAS CONHECIDOS COMO DONATISTAS.

Os donatistas foram o terceiro grupo a serem oficialmente chamados anabatistas. Foram assim chamados devido a serem da mesma opinião que Donato, pastor na cidade de Cartago por volta do ano 311 A.D.

A Origem dos Donatistas.

Este movimento apareceu em Cartago durante a perseguição de Diocleciano. O motivo foi simples: Recusaram a comunhão comum com os pastores apóstatas como foi o caso de Felix, pastor da maior igreja em Cartago. Felix sacrificou aos ídolos e ao imperador na perseguição de Diocleciano. Muitos fiéis morreram na mesma época por recusar agir da mesma forma. Findada a perseguição Felix ordenou ao ministério Ciciliano, acusado de ser um traidor. Donato solicitou a sua deposição, pois, sustentava que o facto de não ter sido fiel no tempo da perseguição invalidava a possibilidade de Felix o ordenar. Esta solicitação é justa e bíblica. Se um pastor é deposto do seu cargo por cair na apostasia que direito ele terá de ordenar alguém? Apoiado pelos pastores das grandes igrejas do ocidente, Felix permaneceu no cargo. Desapontados em ver as Escrituras sendo atropeladas os cristãos fiéis do norte de África fizeram o mesmo que os do Oriente, Ásia Menor e do Ocidente, excluíram da comunhão os pastores e igrejas infiéis. Os que assim agiram foram conhecidos como Donatistas.

A Identificação dos Donatistas com os outros grupos de anabatistas.

Donatistas e Novacianos eram idênticos na doutrina e disciplina. Crispim, historiador francês, diz deles que concordavam:

“Primeiro, pela pureza dos membros da igreja, por afirmarem que ninguém deveria ser admitido na igreja senão tais como verdadeiros crentes santos e reais. Depois pela pureza da disciplina da igreja. Terceiro, pela independência de cada igreja. Quarto, eles batizavam outra vez aqueles cujo primeiro batismo tinham razão de pôr em duvida.”

Não há dúvida de que a maior identificação que liga os quatro grupos de anabatistas primitivos - montanistas, novacianos, donatistas e paulicianos - foi a recusa em aceitar as heresias pós-apostólicas das igrejas erradas. Isso levou-os a rebatizar os membros vindos dessas igrejas e consequentemente recusar a comunhão com as mesmas. O certo é que todas, por defender as verdades bíblicas, receberam o apelido de anabatistas.

Os Donatistas perseguidos verbalmente por Agostinho;

Um facto interessante da história dos donatistas é a disposição de Agostinho, o tão famoso pai da igreja, em debater esses fiéis, mais precisamente na pessoa do bispo donatista Petiliano. Agostinho tentou censurá-lo em palavras, mas diante da Bíblia não houve como vence-lo, pois a Bíblia dava-lhe razão. Perdendo o combate em palavras, Agostinho passou a persegui-los com a espada imperial. Condenou os donatistas nas seguintes questões:

- Eram separatistas. Negavam-se a unirem-se com as igrejas oficiais;
- Insistiam no rebatismo dos que passavam da igreja oficial para a deles;
- Eram irredutíveis em questão de fé;

O bispo donatista Petiliano, contra quem Agostinho debateu, assim respondeu ao bispo católico: “Pensais vós em servir a Deus matando-nos com as vossas mãos? Estais enganados. Deus não tem assassinos por sacerdotes. Cristo nos ensina a suportar a perseguição, não a vingá-la.” E o bispo donatista Gaudencio diz: “Deus não nomeou príncipes e soldados para propagarem a fé. Nomeou profetas e pescadores.”

Os bispos católicos (alguns na África) começaram uma nova moda a partir de 370 A.D. Foi a de batizar criancinhas recém-nascidas. Uma ideia prontamente defendida por Agostinho, que fez o seguinte comentário: “Quem não quer que as criancinhas recém-nascidas do ventre das suas mães sejam batizadas para tirarem o pecado original... seja anátema.” Essa ideia tão anti-bíblica foi totalmente recusada pelos donatistas. Aumentou assim as divergências entre católicos e donatistas.

O Crescimento dos Donatistas;

O crescimento desse grupo de anabatistas foi espantoso. No concílio feito por Teodósio II em 441 na cidade de Cartago, compareceram 286 bispos da igreja oficial e 279 bispos donatistas. Robinsom declara que: “Tornaram-se tão poderosos que a corporação católica invocou o interesse do imperador Constantino contra eles, pelo que os donatistas inqueriram: - que tem o imperador a ver com a igreja? Que tem os cristãos a ver com o rei? Que tem os bispos a ver no tribunal.” O historiador Orchard, relatou que: “…tornaram-se quase tão numerosos como os católicos romanos.” E o historiador Jones diz na sua Conferencia Eclesiastica, Vol. I, pg 474: “Rara era a cidade ou vila na África em que não houvesse uma igreja donatista.”

A Perseguição contra os Donatistas;

O crescimento foi tanto que espantou Constantino… Este imperador, que se dizia cristão, encheu as igrejas oficiais de favores. Na História da Igreja Católica, página 20, temos o seguinte relato: “O clero foi colocado no mesmo pé de igualdade dos sacerdotes pagãos em matéria de isenção e obrigação civis.” Eram permitidos os testamentos em favor da igreja. No mesmo livro na página vinte diz: “Constantino fez doações, saídas do tesouro público à igreja que começava a acumular bens e grandes rendimentos.”

Estes favores porém, só eram concedidos às igrejas oficiais, justamente aquelas que venderam a fé por privilégios humanos, aquelas que desde o princípio precisaram ser excluídas por alterarem até o plano da salvação. Na página 24 do livro já mencionado, segue-se o seguinte relato: “Aboliram a lei da crucificaxão, porém, não estendeu nenhum desses favores aos cristãos dissidentes, os montanistas por exemplo. No seu entusiasmo de preservar a unidade de fé e disciplina, o imperador mostrou-se tão ativamente hostil para com os dissidentes, tais como os donatistas, que qualquer um que novamente estivesse preocupado com a futura liberdade da igreja passaria por grandes dificuldades.” No livro O Papado na Idade Média, pagina 24, esse relato é confirmado: “Constantino não podia tolerar, especialmente a diversidade das crenças e dos cultos que caracterizava a igreja enquanto ainda vaga a confederação. Manifestou essa resolução imediatamente, quando, após os sínodos pouco categórico de Roma, Cartago, e Arles, condenou pessoalmente os donatistas no ano de 316 A.D.”

O movimento foi praticamente exterminado com a chegada dos muçulmanos. Em 722 A.D., o islamismo tomou conta do norte de África. As igrejas cristãs na África, tanto donatistas, como as católicas - tanto as de rito ocidentais como as orientais - foram destruídas. O movimento sobreviveu com outros nomes noutros lugares. Os que conseguiram sobreviver foram para o sul da França, em Albi, para os Alpes no sul da Europa, como o Piemonte. Devido aos decretos de punição com a morte de quem não batizasse as criancinhas, ficaram os donatistas praticamente impedidos de entrar nas cidades ocidentais e orientais da Europa.
OS ANABATISTAS CONHECIDOS COMO PAULICIANOS.

Os Paulicianos podem ter sido o mais antigo grupo de anabatistas que se conhece. A falta de dados sobre o seu princípio, e o falso relato das igrejas orientais sobre eles dificultam uma data exata para o inicio desse movimento.

A Origem dos Paulicianos;

As tradições narradas pelos monges da igreja grega, dizem que os paulicianos surgiram na segunda metade do século sétimo, tendo como fundador um tal Constantino. Realmente Constantino, um pastor pauliciano, existiu. Mas era simplesmente uma pastor, que, em 690 A.D., foi morto por lapidação por ordem dos bispos gregos.

Na História de Gibbon, VI, pg 543, Gibbon classifica o paulicianismo como a forma primitiva do cristianismo:

“De Antioquia e Palmira deve ter sido espalhada a Mesopotâmia e a Pérsia; e foi nestas regiões que se formou a base da fé, que se espalhou desde as cordilheiras do Tauro até o monte Arará. Foi esta a forma primitiva do Cristianismo.”

Noutro lugar, V, pg 386, diz ele:
“O nome pauliciano, dizem os seus inimigos que se deriva de algum líder desconhecido; mas tenho a certeza de que os paulicianos se gloriaram da sua afinidade com o apóstolo dos gentios.”

No livro A Chave da Verdade, escrito pelos próprios paulicianos, citado por Gregório Magistos no décimo primeiro século, e descoberto por Fred C. Conybeare, de Oxford, em 1891, na Biblioteca do Santo Sínodo, em Edjmiatzin da Arménia, afirma nas páginas 76-77 que são de origem apostólica:

“Submetamo-nos então humildemente à Santa igreja universal, e sigamos o seu exemplo, que, agindo com uma só orientação e uma só fé, NOS ENSINOU. Pois ainda recebemos no tempo oportuno o santo e precioso mistério do nosso Senhor Jesus Cristo e do Pai celestial: a saber, que no tempo de arrependimento e fé. Assim COMO APRENDEMOS DO SENHOR DO UNIVERSO E DA IGREJA APOSTÓLICA, prossigamos; e firmemos em fé verdadeira aqueles que não receberam o santo batismo (na margem: a saber, os latinos, os gregos e arménios que nunca foram batizados); como assim nunca provaram do corpo nem beberam do santo sangue do nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, de acordo com a Palavra do Senhor, devemos traze-los à fé, induzi-los ao arrependimento, e dar-lhes o batismo - rebatiza-los.”

Fica claro que eles não se denominavam paulicianos, porém, “a igreja Santa, Universal e Apostólica.” As igrejas romanas, gregas e arménias, eram duramente condenadas por eles. Condenavam principalmente o batismo por imposição (praticado pelos imperadores) e o batismo infantil.

Outro relato interessante é o do professor Wellhausen, na biografia que escreveu sobre Maomé, na Enciclopédia Britânica, XVI, pg 571, pois ali os paulicianos são chamados de “sabian”, que é uma palavra árabe que significa “batista”.

Crescimento e Perseguição dos Paulicianos.

Na enciclopédia acima mencionada diz que os sabianos - ou batistas - encheram com os seus adeptos, a Siria, a Palestina, e a Babilónia. O maior grupo estava fixado nas regiões montanhosas do Ararat e do Tauros. O motivo de escolherem este lugar de tão difícil acesso é a perseguição movida contra eles pelas igrejas gregas. Enquanto Montanistas, Novacianos e Donatistas eram perseguidos mais pelas igrejas romanas, as igrejas gregas perseguiam os paulicianos no Oriente.

O crescimento não podia deixar de despertar os inimigos. No ano de 690, o já mencionado pastor Constantino, foi apedrejado por ordem do imperador, e o seu sucessor queimado vivo. A imperatriz Teodora instigou uma perseguição na qual, dizem, foram mortos na Arménia cem mil paulicianos.

Por incrível que pareça foram tolerados por muito tempo pelos maometanos. Isso deixou-os à vontade e foram eles os grandes missionários da idade das trevas entre os anabatistas. Espalharam-se pela Trácia em 970, pela Bulgária, Bosnia e Sérvia após o ano 1100. Em todos estes lugares foram como missionários enviados pelas igrejas paulicianas. O historiador Orchard revela que “um número considerável de paulicianos esteve estabelecido na Lombardia, na Insubria, mas principalmente em Milão, aí pelo meado do século onze e que muitos deles levaram vida errante na França, na Alemanha e outros países, onde ganharam a estima e admiração da multidão pela sua santidade. Na Itália foram chamados de Paterinos e Cátaros. Na França foram denominados búlgaros, do reino de sua emigração, também publicanos e ´boni homines´, bons homens; mas foram principalmente conhecidos pelo termo albigenses, da cidade de Albi, no Languedoc superior”.

Em 1154 um grupo de paulicianos emigrou para a Inglaterra, constrangidos ao exílio pela perseguição. Uma porção deles estabeleceram-se em Oxford. William Newberry conta do terrível castigo aplicado ao pastor Gerhard e ao povo. Seis anos mais tarde outra companhia de paulicianos entrou em Oxford. Henrique II ordenou que fossem marcados na testa com ferros quentes, chicoteados pelas ruas da cidade, as roupas cortadas até à cintura e enxotados a campo aberto. As vilas não lhes deviam proporcionar abrigo ou alimento e eles sofreram lenta agonia de frio e fome. É interessante lembrar que João Wycliff (1320-1384), considerado a “estrela da alva” da Reforma, iniciou justamente em Oxford a sua luta para reformar a podridão do catolicismo. Sem dúvida ele teve algum contato com algum sobrevivente dos paulicianos.

A partir do século XII o nome pauliciano foi caindo em desuso. Conforme as suas emigrações e campos missionários, foram recebendo novos nomes ou fundindo-se com os outros grupos de anabatistas da Europa. No sul o nome perdeu-se entre os albingenses e valdenses. No centro e norte da Europa foi aos poucos prevalecendo o nome de “anabatistas”.