09/09/2010

A INQUISIÇÃO EM PORTUGAL: O SUPLÍCIO!

D. João III
EM esplendor – morto D. João III, continuou o tribunal-flagelo num perfeito à vontade, visto que os seus sucessores não se preocupavam com opor-lhe embaraços. D. Sebastião enterrou a monarquia nos areais de Alcácer; o cardeal D. Henrique, que tanto tempo foi inquisidor-geral, pouco reinou e tinha o Santo Ofício no coração… Excluído o duque de Beja e seu filho D. António, os fidalgos e o clero entregaram o trono a Filipe II de Espanha.
Por conseguinte, em 1580, entra em verdadeira explosão a Inquisição. O rei, que tanto a protegia em Madrid, com certeza não se iria opor ao seu mais vasto desenvolvimento em Portugal, tanto mais que lhe servia de instrumento para o primeiro país conquistado. E assim enquanto os Portugueses eram queimados pela Igreja, em nome de Deus, eram também despojados, em nome do trono, pelo rei. De sorte que os nobres, que, por seus bens, eram suspeitos de ter crédito na nação, logo eram declarados hereges e traidores. E, se fugiam, para salvar a vida, sofriam imediatamente o confisco dos bens.
Filipe nomeou o arquiduque de Áustria, cardal Alberto, governador ou vice-rei de Portugal e o papa nomeou-o núncio e inquisidor-geral.
As únicas funções que os Portugueses exerceram durante o domínio espanhol foram as de pagar impostos.
O povo de “varões assinalados”, “que por mares nunca dantes navegados”, tinha aberto à Europa o caminho da Ásia e cobrado tributo do Ganges e da China, caminhava agora como um rebanho de ovelhas para as torturas e para as fogueiras da Inquisição, ou morria de miséria sobre o próprio território para onde carreara os tesouros da Índia.
O tormento de fogo
D. João IV – Mas um belo dia, um punhado de patriotas, secundados pelo povo, sacode o jugo de Castela. Oferece o trono de Portugal ao duque de Bragança, que fica perplexo… Mas a mulher, D. Luísa de Gusmão, ter-lhe-ia dito: “Aceitai, D. João: excelente coisa é morrer como rei, ainda que não seja senão por um quarto de hora.” Fosse como fosse, D. João foi rei.
E uma vez que o reino lhe foi entregue por quem pôs em risco a vida para o reaver dos estrangeiros, tinha por obrigação ser rei…de Portugal. Era detentor de uma autoridade que lhe foi conferida pela Nação, representada pelos conspirador s de 1640…Atrás dos Filipes parece que devia ter ido a Inquisição. A Inquisição e o papa. A obra enorme a fazer, depois de resfriado o rescaldo do incêndio, foi confiada a um fraco rei, gerador de fraca dinastia. Começa, por consequência, a era nova com a cumplicidade do rei nas infâmias do Santo Ofício. Apenas teve coragem para proibir o confisco dos bens aos acusados. Claro que os inquisidores, prejudicados nas suas rendas, queixaram-se ao papa. Este mandou um breve mantendo o confisco e excomungando quem se opusesse à execução do diploma pontifício.
Tormento do Potro
O rei neste caso não se desconcertou: - Perguntou para quem reverteriam as confiscações. Responderam-lhe que eram a favor do rei. Então D. João IV replicou: - Consinto em que confisqueis – para mostrar o profundo respeito que consagro ao papa – e mediante inventário exacto dos bens. Mas como posso dispor do que é meu, declaro que faço desde já doação dos bens aos acusados e suas famílias, devendo ser-lhes restituídos, qualquer que seja a pena…
E durante este reinado salvaram-se os bens dos desgraçados, porque os inquisidores, receosos de se atraiçoarem, não insistiram… Mas guardaram-na… Mal o rei morreu, declararam que ele “tinha iludido por um subterfúgio as vontades de Sua Santidade e contrariado as suas ordens”. Estava pois incurso – segundo eles – na excomunhão imposta no breve do papa contra os que obstassem à sua execução. D. João IV morrera, portanto, sob o estigma da condenação eterna; e só depois de absolvido pela Inquisição podia continuar na sepultura. No dia das exéquias solenes, os inquisidores partiram desde o palácio do inquisidor-geral, em procissão, e revestidos. Acompanhava-os uma multidão imensa. Dentro da igreja, na presença da rainha viúva e de seus dois filhos D. Afonso e D. Pedro, mandam os esbirros apear da Eça o caixão, abrem-no, tiram o cadáver, despojam-no das mortalhas e estendem-no no chão. Lêem a sentença que o declara excomungado, proclamam-no inimigo da Igreja e depois… pronunciam a absolvição!
Só depois de terem assim concedido à alma do rei licença para se apresentar diante de Deus, mandaram seguir o cadáver no caixão e continuarem os funerais.