03/05/2013

O Imperador Constantino e Mudanças no Cristianismo

Visão de Constantino - Rafael Sanzio
É o dia 27 de outubro do ano 312 depois de Cristo. Dois exércitos se defrontam às portas de Roma. O primeiro sai dos Muros Aurelianos para posicionar-se ao longo das margens do Tibre, junto a Ponte Milvio. É comandado por Marcos Aurélio Valério Maxêncio. O segundo, que desceu de Trier (na Alemanha) rumo a Roma, se coloca ao longo da via Flaminia. É guiado por Flávio Valério Constantino. Os dois contendores lutam pelo título de Augusto do Ocidente, um dos quatro cargos supremos, na Tetrarquia, o novo sistema de governo do Império, ideado por Diocleciano.
O sol começa a se pôr quando as tropas de Constantino vêem repentinamente surgir no céu um grande sinal luminoso, com uma frase chamejante:  In hoc signo vinces (com este sinal vencerás). Eusébio de Cesareia, o primeiro grande histórico da Igreja recorda o acontecimento com estas palavras: "Um sinal extraordinário aparece no céu. … quando o sol começava a declinar, Constantino vê com os próprios olhos, no céu, mais acima do sol, o troféu de uma cruz de luz sobre a qual estavam traçadas as palavras IN HOC SIGNO VINCES. Foi tomado por um grande estupor e, com ele, todo seu exército." EUSEBIO, Vita Constantini, 37-40.
Constantino é a prova histórica de que o cristianismo primitivo só tinha poder eclesiástico.
O começo da queda do império romano começou com Constantino levando a capital para Bizâncio e os bárbaros invadindo o império.
Depois da abdicação de Diocleciano e Maximiano, Flávio Constâncio Cloro e Galério Maxímino dividiram entre si o império. Constâncio Cloro recuperou a Bretanha, derrotou 60 mil alemães e edificou a cidade de Spira.
Assim dominava a Inglaterra, e a Bretanha até a Dalmácia e às províncias orientais. Era um homem sóbrio e honesto. Gostava dos cristãos que tratava como amigos mesmo quando se recusavam sacrificar aos deuses romanos.
Constâncio Cloro morreu em York tendo antes proclamado imperador e seu sucessor o filho Constantino. Nesta mesma época quem dominava em Roma, na Itália e na África era Maxêncio, um homem de uma avareza insaciável e de uma devassidão e crueldade pior que Nero. Embriagava-se frequentemente e o vinho o tornava louco furioso. Nestas horas mandava mutilar os próprios amigos.
Era evidente que a guerra devia explodir entre Maxêncio e Constantino. Mas houve apenas começo de guerra, pois Maxêncio morreu afogado no Tibre numa armadilha que havia preparado para Constantino. Então, vencido Licínio, marido de sua irmã, Constância, Constantino tornou-se o único senhor do império.
Quem era Constantino? Segundo os cristãos era um santo, uma vez que em 313, no Edito de Milão, havia ordenado por lei que a religião cristã fosse livre e respeitada. Segundo Julíano, o apóstata, era um diabo cheio de orgulho e de ódio.
Na realidade temos que reconhecer-lhe a inteligência, a coragem e a prudência que lhe permitiram ser o senhor de todo o império romano do Ocidente, do Oriente e da África do Norte, por mais de 30 anos! Mas também foi suficientemente cruel e frio quando se tratava de interesses pessoais...
Mandou matar seu filho Crispo pela simples acusação da madrasta. Mandou sufocar no banho sua mulher Fausta. Mandou matar Liciniano, que era inocente dos crimes de Licínio, seu pai. Estes e muitos outros crimes de aparência política, ele os achava necessários para "proteger-se dentro de casa", como dizia...
Mas certo dia, quando estava entrando no templo de Júpiter para oferecer sacrifícios e purificar-se, o grande sacerdote barrou-lhe o caminho dizendo-lhe que os deuses não o perdoavam...
Foi então que alguém lhe fez observar que o batismo cristão perdoa todos os crimes cometidos anteriormente. Anteriormente? Sim, anteriormente!
Foi assim que Constantino resolveu adiar o batismo para o último dia de sua vida, já que outros homicídios políticos estavam previstos... Se isso é história ou lenda, é impossível saber. O que se sabe é que ainda matou gente e no fim da vida pediu o batismo.
Mas um outro fato estava acontecendo: o Oriente próximo estava se tornando a porta de entrada no império para multidões de bárbaros.
Em 254, os Marcomanos invadiram a Panónia e o norte da Itália. Em 255 os godos entravam na Dalmácia e na Macedónia; os citas, na Ásia Menor; os persas, na Síria; em 257 os godos invadiram o Bósforo e entraram no Ponto; em 258 conquistaram a Calcedónia, Nicomedia e Nicéia; em 259 os alemanos invadiram a Itália; em 260 o imperador Valeriano foi preso pelos persas. Os bárbaros haviam-se apercebido da fraqueza de Roma.
Já Roma, com a recusa do perdão dos deuses, não agradava mais Constantino e assim ele resolveu levar a capital do império para Bizâncio que, em 330, transformou numa esplêndida cidade que chamou de Constantinopla ou Nova Roma, fundando ali uma universidade e uma sede patriarcal onde o bispo tivesse seu lugar de honra primacial no Império. (Daí a luta entre o bispo de Roma e o de Bizâncio).
Parece que a promessa de que o batismo o purificaria de todos os seus pecados criou em Constantino um sentimento de benevolência para com os cristãos.
Mas ele não se apercebeu que Roma, livre do imperador, estava transferindo para o seu bispo a antiga primazia mundial (veja o caso de Atila!): uma primazia religiosa que se transformará brevemente em primazia política.
E este será mais um motivo de rivalidade entre o bispo de Roma e o bispo de Constantinopla: uma rivalidade que só aparentemente é religiosa quando em verdade, se tratava de ideologia do poder político.
E não passou muito tempo para que fosse escrita uma nova página da história: em 325 Constantino, com a sua autoridade imperial, convocou todos os bispos em Nicéia para um grande concilio: esqueceu-se de Roma? O certo é que com este gesto imperial Roma passou em segundo ou terceiro lugar!
Nenhum bispo discutiu a sua autoridade imperial e de certo modo até eclesiástica, já que era chamado (embora pagão) "episcopus ed extra", isto é: o bispo-de-fora.
Como explicar esta benevolência de Constantino para com os cristãos? Certamente a influência de sua mãe Helena, que era cristã.
Quem era Helena? É o bispo de Milão, Sto. Ambrósio, que no seu "De obitu Theodosu” (acerca da morte do imperador Teodósio), nos informa que em 273, quando Constâncio Cloro, ainda jovem oficial romano, passou em Drepanum, na Bitínia, encontrou uma jovem locandeira de rara beleza. Apaixonou-se e tomou-a para si como concubina.
 
Desta relação, em 274 nasceu Constantino. Mas em 292, quando Constâncio Cloro foi eleito à dignidade de César, rejeitou Helena, que ficou na sombra até o ano de 306, quando seu filho Constantino tornara-se imperador e chamou-a à corte dando-lhe o título de Augusta. Eusébio é pródigo em elogios a Helena (talvez para agradar o filho imperador...).
É o bispo Ambrósio que exalta a figura e a fé cristã de Helena escrevendo: "Ela era realmente uma boa locandeira porque preferiu ser desprezada para ganhar Cristo. Por isso Cristo tirou-a da lama do império. Ela era uma mãe ansiosa pela saúde espiritual de seu filho, em cujas mãos estava a soberania do império romano; mãe que não hesitou em ir até Jerusalém nos lugares da Paixão do Senhor. (...) Grande mulher que encontrou muito mais para oferecer ao imperador do que aquilo que recebeu de suas mãos".
O que ofereceu ao imperador? O lenho da cruz onde foi crucificado o Senhor Jesus. Quem nos garante isto é Eusébio de Cesareia em sua "História Eclesiástica" e também os historiadores Rufino, Sócrates, Sozomeno e Teodoreto.
O próprio imperador Justiniano I escreveu: "Foi a mãe de Constantino que achou o santo madeiro dos cristãos". Também São Cirilo que era bispo de Jerusalém, nesta época.
Não é de se admirar que tanta gente tenha testemunhado o achado de Helena porque o imperador Adriano (117-138) pouco antes de morrer, "tendo-se tornado tirano, ciumento e supersticioso (escreve o historiador Rufino) querendo fazer desaparecer e cancelar para sempre o santo lugar da redenção, decretou a profanação do lugar santo onde Cristo morreu". (E uma imagem diferente daquilo que nos passou M. Yourcenar em "Memoires d'Adrien; etc". (Ed. Gallimard; Paris; 1974).
Com efeito, o imperador Adriano mandou cobrir de terra e nivelar com materiais inutilizados toda a depressão que separava o monte Calvário do sepulcro de Jesus e: sobre esta plataforma mandou construir dois templos: um a Júpiter; sobre o santo sepulcro, e um a Vê nus, sobre o buraco da cruz.
Eusébio escreveu: "Insensato Adriano! Acreditava que poderia esconder ao género humano o esplendor do Sol que tinha se elevado para todo o mundo. Não se dava conta que decretando o esquecimento cios lugares santos, fixava irrevogavelmente o lugar para sempre (...) e as colunas impuras do templo serviriam de indicação infalível para a descoberta dos santos lugares!".
Helena foi lá e encontrou os lugares santos com os lenhos da cruz e os pregos...
Eusébio nos conta que Constantino fez logo o projeto para erguer uma grande basílica sobre o Gólgota, comunicando a Macário, então bispo de Jerusalém, a sua decisão e ordenando-lhe assumir a supervisão dos trabalhos.
A construção da basílica durou 12 anos e foi consagrada em 14 de setembro de 335, dois anos antes da morte de Constantino.
Quando eu morava no Líbano visitei com uma certa frequência estes santos lugares. De batina preta e de posse de um salvo-conduto do Vaticano, viajava até Damasco, entrando depois no deserto da Síria, até Amman, capital da Jordânia.
Então subia até Jerusalém, entrando em Israel pela linha da fronteira que se encontrava ao lado do Colégio Notre Dame de Sião. Se Helena sentiu aquilo que eu sentia na alma todas as vezes que visitava aqueles santos lugares, com certeza conseguiu transmitir ao filho o cristianismo de Jesus Cristo.
Autor: Carlo Bússola, professor de Filosofia na UFES
Fonte: Publicado originalmente no jornal “A Tribuna” – Vitória-ES, numa série sob o título “Os Bispos de Roma e a Ideologia do Poder”.
Comentários do IASD Em Foco
Junto com a erudição do Dr. Carlo Bússola, enfatizamos a sua total isenção e honestidade intelectual [tão carente, diga-se de passagem, entre historiadores, teólogos, proclamados apologetas, pastores e outros líderes religiosos da atualidade].
Quanto a isso, veja-se a nota de advertência que com frequência aparece na maioria dos artigos da série. No entanto, ressalte-se que os fatos falam por si mesmo sobre a origem insidiosa deste sistema da falsa religião, como predita pelo profeta Daniel, apóstolo Paulo, João e outros (Daniel 7:8-10; Atos 20: 28-30; II Tessalonicenses 2:3-4 e 7-12; Apocalipse 13:1-10).
Dada a sua importância crucial, estes assuntos aqui abordados dizem respeito a todos os cristãos – católicos, evangélicos, ortodoxos, renovados, protestantes, etc. – independente da coloração ideológica ou denominacional; pois, a Bíblia afirma taxativamente que este sistema da falsa religião, erigido em cima da “ideologia do poder”, contaminou praticamente todas as religiões cristãs: “Seguiu-se outro anjo, o segundo, dizendo: Caiu, caiu a grande Babilónia que tem dado a beber a todas as nações do vinho da fúria da sua prostituição” (Apocalipse 14:6).  “... pois todas as nações têm bebido do vinho do furor da sua prostituição...” (Apocalipse 18:3, p.p.).
Fazendo, em tempo, uma correção no “endereço” desta solene mensagem de advertência, nós verificamos que ela se destina a todos os habitantes da Terra; afinal, agora nos derradeiros momentos da História o complexo babilónico da falsa religião abarcará toda a Terra e, portanto, todo habitante deste planeta terá que tomar a sua decisão de um lado ou do outro, a favor da Verdade (Apocalipse 14:12) ou do lado do erro (Apocalipse 14:9-11).
Repetimos: o domínio da falsa religião será planetário; é a globalização do erro: “Foi-lhe dado, também, que pelejasse contra os santos e os vencesse. Deu-se-lhe ainda autoridade sobre cada tribo, povo, língua e nação; e adorá-la-ão todos os que habitam sobre a Terra, aqueles cujos nomes não foram escritos no Livro da Vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo” (Apocalipse 13:7-8).
Em tempo, “vinho” em linguagem profética significa “doutrina” e, por conseguinte, a Bíblia afirma que, embora repudiem a idolatria e outras práticas abomináveis de Babilónia, suas “filhas”, praticamente todas as religiões ditas cristãs, beberam – assimilaram em seu corpo doutrinário – as principais doutrinas do “cardápio” de Babilónia.