É o dia 27 de outubro do ano 312 depois de Cristo. Dois
exércitos se defrontam às portas de Roma. O primeiro sai dos Muros Aurelianos
para posicionar-se ao longo das margens do Tibre, junto a Ponte Milvio. É
comandado por Marcos Aurélio Valério Maxêncio. O segundo, que desceu de Trier
(na Alemanha) rumo a Roma, se coloca ao longo da via Flaminia. É guiado por
Flávio Valério Constantino. Os dois contendores lutam pelo título de Augusto do
Ocidente, um dos quatro cargos supremos, na Tetrarquia, o novo sistema de
governo do Império, ideado por Diocleciano.
O sol começa a se pôr quando as tropas de Constantino vêem
repentinamente surgir no céu um grande sinal luminoso, com uma frase
chamejante: In hoc signo vinces (com
este sinal vencerás). Eusébio de Cesareia, o primeiro grande histórico da
Igreja recorda o acontecimento com estas palavras: "Um sinal extraordinário
aparece no céu. … quando o sol começava a declinar, Constantino vê com os
próprios olhos, no céu, mais acima do sol, o troféu de uma cruz de luz sobre a
qual estavam traçadas as palavras IN HOC SIGNO VINCES. Foi tomado por um grande
estupor e, com ele, todo seu exército." EUSEBIO, Vita Constantini, 37-40.
Constantino é a prova histórica de que o cristianismo
primitivo só tinha poder eclesiástico.
O começo da queda do império romano começou com Constantino
levando a capital para Bizâncio e os bárbaros invadindo o império.
Depois da abdicação de Diocleciano e Maximiano, Flávio
Constâncio Cloro e Galério Maxímino dividiram entre si o império. Constâncio
Cloro recuperou a Bretanha, derrotou 60 mil alemães e edificou a cidade de
Spira.
Assim dominava a Inglaterra, e a Bretanha até a Dalmácia e
às províncias orientais. Era um homem sóbrio e honesto. Gostava dos cristãos
que tratava como amigos mesmo quando se recusavam sacrificar aos deuses
romanos.
Constâncio Cloro morreu em York tendo antes proclamado
imperador e seu sucessor o filho Constantino. Nesta mesma época quem dominava
em Roma, na Itália e na África era Maxêncio, um homem de uma avareza insaciável
e de uma devassidão e crueldade pior que Nero. Embriagava-se frequentemente e o
vinho o tornava louco furioso. Nestas horas mandava mutilar os próprios amigos.
Era evidente que a guerra devia explodir entre Maxêncio e
Constantino. Mas houve apenas começo de guerra, pois Maxêncio morreu afogado no
Tibre numa armadilha que havia preparado para Constantino. Então, vencido
Licínio, marido de sua irmã, Constância, Constantino tornou-se o único senhor
do império.
Quem era Constantino? Segundo os cristãos era um santo, uma
vez que em 313, no Edito de Milão, havia ordenado por lei que a religião cristã
fosse livre e respeitada. Segundo Julíano, o apóstata, era um diabo cheio de
orgulho e de ódio.
Na realidade temos que reconhecer-lhe a inteligência, a
coragem e a prudência que lhe permitiram ser o senhor de todo o império romano
do Ocidente, do Oriente e da África do Norte, por mais de 30 anos! Mas também
foi suficientemente cruel e frio quando se tratava de interesses pessoais...
Mandou matar seu filho Crispo pela simples acusação da
madrasta. Mandou sufocar no banho sua mulher Fausta. Mandou matar Liciniano,
que era inocente dos crimes de Licínio, seu pai. Estes e muitos outros crimes
de aparência política, ele os achava necessários para "proteger-se dentro
de casa", como dizia...
Mas certo dia, quando estava entrando no templo de Júpiter para
oferecer sacrifícios e purificar-se, o grande sacerdote barrou-lhe o caminho
dizendo-lhe que os deuses não o perdoavam...
Foi então que alguém lhe fez observar que o batismo cristão
perdoa todos os crimes cometidos anteriormente. Anteriormente? Sim,
anteriormente!
Foi assim que Constantino resolveu adiar o batismo para o
último dia de sua vida, já que outros homicídios políticos estavam previstos...
Se isso é história ou lenda, é impossível saber. O que se sabe é que ainda
matou gente e no fim da vida pediu o batismo.
Mas um outro fato estava acontecendo: o Oriente próximo
estava se tornando a porta de entrada no império para multidões de bárbaros.
Em 254, os Marcomanos invadiram a Panónia e o norte da
Itália. Em 255 os godos entravam na Dalmácia e na Macedónia; os citas, na Ásia
Menor; os persas, na Síria; em 257 os godos invadiram o Bósforo e entraram no
Ponto; em 258 conquistaram a Calcedónia, Nicomedia e Nicéia; em 259 os alemanos
invadiram a Itália; em 260 o imperador Valeriano foi preso pelos persas. Os
bárbaros haviam-se apercebido da fraqueza de Roma.
Já Roma, com a recusa do perdão dos deuses, não agradava mais
Constantino e assim ele resolveu levar a capital do império para Bizâncio que,
em 330, transformou numa esplêndida cidade que chamou de Constantinopla ou Nova
Roma, fundando ali uma universidade e uma sede patriarcal onde o bispo tivesse
seu lugar de honra primacial no Império. (Daí a luta entre o bispo de Roma e o
de Bizâncio).
Parece que a promessa de que o batismo o purificaria de
todos os seus pecados criou em Constantino um sentimento de benevolência para
com os cristãos.
Mas ele não se apercebeu que Roma, livre do imperador,
estava transferindo para o seu bispo a antiga primazia mundial (veja o caso de
Atila!): uma primazia religiosa que se transformará brevemente em primazia
política.
E este será mais um motivo de rivalidade entre o bispo de
Roma e o bispo de Constantinopla: uma rivalidade que só aparentemente é
religiosa quando em verdade, se tratava de ideologia do poder político.
E não passou muito tempo para que fosse escrita uma nova
página da história: em 325 Constantino, com a sua autoridade imperial, convocou
todos os bispos em Nicéia para um grande concilio: esqueceu-se de Roma? O certo
é que com este gesto imperial Roma passou em segundo ou terceiro lugar!
Nenhum bispo discutiu a sua autoridade imperial e de certo
modo até eclesiástica, já que era chamado (embora pagão) "episcopus ed
extra", isto é: o bispo-de-fora.
Como explicar esta benevolência de Constantino para com os
cristãos? Certamente a influência de sua mãe Helena, que era cristã.
Quem era Helena? É o bispo de Milão, Sto. Ambrósio, que no
seu "De obitu Theodosu” (acerca da morte do imperador Teodósio), nos
informa que em 273, quando Constâncio Cloro, ainda jovem oficial romano, passou
em Drepanum, na Bitínia, encontrou uma jovem locandeira de rara beleza.
Apaixonou-se e tomou-a para si como concubina.
Desta relação, em 274 nasceu Constantino. Mas em 292, quando
Constâncio Cloro foi eleito à dignidade de César, rejeitou Helena, que ficou na
sombra até o ano de 306, quando seu filho Constantino tornara-se imperador e
chamou-a à corte dando-lhe o título de Augusta. Eusébio é pródigo em elogios a
Helena (talvez para agradar o filho imperador...).
É o bispo Ambrósio que exalta a figura e a fé cristã de
Helena escrevendo: "Ela era realmente uma boa locandeira porque preferiu
ser desprezada para ganhar Cristo. Por isso Cristo tirou-a da lama do império.
Ela era uma mãe ansiosa pela saúde espiritual de seu filho, em cujas mãos
estava a soberania do império romano; mãe que não hesitou em ir até Jerusalém
nos lugares da Paixão do Senhor. (...) Grande mulher que encontrou muito mais
para oferecer ao imperador do que aquilo que recebeu de suas mãos".
O que ofereceu ao imperador? O lenho da cruz onde foi
crucificado o Senhor Jesus. Quem nos garante isto é Eusébio de Cesareia em sua
"História Eclesiástica" e também os historiadores Rufino, Sócrates,
Sozomeno e Teodoreto.
O próprio imperador Justiniano I escreveu: "Foi a mãe
de Constantino que achou o santo madeiro dos cristãos". Também São Cirilo
que era bispo de Jerusalém, nesta época.
Não é de se admirar que tanta gente tenha testemunhado o achado
de Helena porque o imperador Adriano (117-138) pouco antes de morrer,
"tendo-se tornado tirano, ciumento e supersticioso (escreve o historiador
Rufino) querendo fazer desaparecer e cancelar para sempre o santo lugar da
redenção, decretou a profanação do lugar santo onde Cristo morreu". (E uma
imagem diferente daquilo que nos passou M. Yourcenar em "Memoires
d'Adrien; etc". (Ed. Gallimard; Paris; 1974).
Com efeito, o imperador Adriano mandou cobrir de terra e
nivelar com materiais inutilizados toda a depressão que separava o monte
Calvário do sepulcro de Jesus e: sobre esta plataforma mandou construir dois
templos: um a Júpiter; sobre o santo sepulcro, e um a Vê nus, sobre o buraco da
cruz.
Eusébio escreveu: "Insensato Adriano! Acreditava que
poderia esconder ao género humano o esplendor do Sol que tinha se elevado para
todo o mundo. Não se dava conta que decretando o esquecimento cios lugares
santos, fixava irrevogavelmente o lugar para sempre (...) e as colunas impuras
do templo serviriam de indicação infalível para a descoberta dos santos
lugares!".
Helena foi lá e encontrou os lugares santos com os lenhos da
cruz e os pregos...
Eusébio nos conta que Constantino fez logo o projeto para
erguer uma grande basílica sobre o Gólgota, comunicando a Macário, então bispo
de Jerusalém, a sua decisão e ordenando-lhe assumir a supervisão dos trabalhos.
A construção da basílica durou 12 anos e foi consagrada em
14 de setembro de 335, dois anos antes da morte de Constantino.
Quando eu morava no Líbano visitei com uma certa frequência
estes santos lugares. De batina preta e de posse de um salvo-conduto do
Vaticano, viajava até Damasco, entrando depois no deserto da Síria, até Amman,
capital da Jordânia.
Então subia até Jerusalém, entrando em Israel pela linha da
fronteira que se encontrava ao lado do Colégio Notre Dame de Sião. Se Helena
sentiu aquilo que eu sentia na alma todas as vezes que visitava aqueles santos
lugares, com certeza conseguiu transmitir ao filho o cristianismo de Jesus
Cristo.
Autor: Carlo
Bússola, professor de Filosofia na UFES
Fonte: Publicado
originalmente no jornal “A Tribuna” – Vitória-ES, numa série sob o título “Os
Bispos de Roma e a Ideologia do Poder”.
Comentários do IASD
Em Foco
Junto com a erudição do Dr. Carlo Bússola, enfatizamos a sua
total isenção e honestidade intelectual [tão carente, diga-se de passagem,
entre historiadores, teólogos, proclamados apologetas, pastores e outros
líderes religiosos da atualidade].
Quanto a isso, veja-se a nota de advertência que com frequência
aparece na maioria dos artigos da série. No entanto, ressalte-se que os fatos
falam por si mesmo sobre a origem insidiosa deste sistema da falsa religião,
como predita pelo profeta Daniel, apóstolo Paulo, João e outros (Daniel 7:8-10;
Atos 20: 28-30; II Tessalonicenses 2:3-4 e 7-12; Apocalipse 13:1-10).
Dada a sua importância crucial, estes assuntos aqui
abordados dizem respeito a todos os cristãos – católicos, evangélicos,
ortodoxos, renovados, protestantes, etc. – independente da coloração ideológica
ou denominacional; pois, a Bíblia afirma taxativamente que este sistema da
falsa religião, erigido em cima da “ideologia do poder”, contaminou
praticamente todas as religiões cristãs: “Seguiu-se outro anjo, o segundo,
dizendo: Caiu, caiu a grande Babilónia que tem dado a beber a todas as nações
do vinho da fúria da sua prostituição” (Apocalipse 14:6). “... pois todas as nações têm bebido do vinho
do furor da sua prostituição...” (Apocalipse 18:3, p.p.).
Fazendo, em tempo, uma correção no “endereço” desta solene
mensagem de advertência, nós verificamos que ela se destina a todos os
habitantes da Terra; afinal, agora nos derradeiros momentos da História o
complexo babilónico da falsa religião abarcará toda a Terra e, portanto, todo
habitante deste planeta terá que tomar a sua decisão de um lado ou do outro, a
favor da Verdade (Apocalipse 14:12) ou do lado do erro (Apocalipse 14:9-11).
Repetimos: o
domínio da falsa religião será planetário; é a globalização do erro: “Foi-lhe
dado, também, que pelejasse contra os santos e os vencesse. Deu-se-lhe ainda
autoridade sobre cada tribo, povo, língua e nação; e adorá-la-ão todos os que
habitam sobre a Terra, aqueles cujos nomes não foram escritos no Livro da Vida
do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo” (Apocalipse 13:7-8).
Em tempo, “vinho” em linguagem profética significa
“doutrina” e, por conseguinte, a Bíblia afirma que, embora repudiem a idolatria
e outras práticas abomináveis de Babilónia, suas “filhas”, praticamente todas
as religiões ditas cristãs, beberam – assimilaram em seu corpo doutrinário – as
principais doutrinas do “cardápio” de Babilónia.