16/05/2013

Foi São Pedro Bispo em Roma?

Não existem documentos históricos da época que atestem que Pedro foi bispo em Roma
O dogma católico é claro: "É objeto de fé católica que por vontade de Jesus, Pedro devia ter perpetuamente um sucessor no cargo de pastor supremo e este sucessor é o bispo de Roma". (B. Bartmann; "Teologia Dogmática" vol. II; Ed. Paulinas; SP; 1964; pág. 481).
Com efeito, o Concilio Vaticano I decretou isto na sessão 4, C.2. Este decreto inclui um ponto dogmático: que o apóstolo Pedro sempre terá um sucessor; e um ponto histórico: que o bispo de Roma é o sucessor de São Pedro.
Os teólogos [católicos] provam o primeiro ponto pelo fato de que a Igreja de Jesus, sendo eterna, terá eternamente alguém que cuide dela e este só poderá ser o sucessor de São Pedro. Também os teólogos provam o segundo ponto dizendo que Pedro foi bispo em Roma, onde morreu mártir, deixando um outro bispo como seu sucessor.
O primeiro ponto ainda hoje é muito questionado. Os católicos afirmam e os racionalistas negam; ainda mais, dizem que nas palavras de Jesus nunca aparece a suposta figura do sucessor. O que interessa, agora, é saber se realmente Pedro esteve em
Temos quatro escritores que nos relatam que na sua época havia uma tradição que afirmava que Pedro tinha estado em Roma; são eles: Orígenes no III século; Lactâncio e Eusébio, ambos no IV século; Gerónimo, no V século.
 É importante frisar que se trata de historiadores que viveram 300-400 anos depois de São Pedro e que relatam "tradições".
Orígenes (que morreu 187 anos depois da morte de São Pedro) costumava dizer que "Pedro foi crucificado em Roma de cabeça para baixo, a pedido seu" (Eusébio; II; 25. Veja também: Eusébius; "Eclesiastical History"; New York: 1839).
Lactâncio (que morreu 258 anos depois da morte de São Pedro) opina (isto é: acha) que Pedro foi a Roma no tempo do imperador Nero (veja: Lactantius: "De mortibus persecutorum"; 2. Veja também: Lactantius; "Works", em "Ante-Nicene Christian Library"; vols. XXX-II; London; 1881).
Gerónimo (que morreu 353 anos após a morte de São Pedro) diz que Pedro chegou em Roma no ano 42 d.C. (Shot-well J. And Loomis L.; "The see of Peter";Columbia U.P.;1927; pg. 64-65).
Eusébio (que morreu em 340, isto é: cerca de 270 anos após a morte de São Pedro, no começo do III livro da "História Eclesiástica" escreve: "Parece (note-se este "parece"!) que Pedro tenha pregado o evangelho aos judeus da dispersão e por fim foi para Roma, sendo lá crucificado de cabeça para baixo".
E acrescenta algo importantíssimo: "Depois do martírio de Pedro e Paulo, Lino foi designado como primeiro bispo de Roma".
Então, se Lino foi o primeiro, Pedro era apenas, "visita" e não bispo de Roma!
O historiador Peter De Rosa em seu livro "Vicars of Christ" (London; Bantan Press; 1988) à página 15 diz que segundo vários autores Pedro só teria chegado em Roma nos últimos anos de sua vida e a sua função de bispo não passa de uma lenda; prova disto é que seu nome não aparece nas listas mais antigas da sucessão episcopal.
Mas precisava dar vida e força a uma lenda para fundamentar a ideologia do poder, afirmam os racionalistas... É o que veremos mais adiante. O que nos interessa agora é a história de Pedro em Roma.
A arqueóloga romana Margherita Guarducci, professora de Epigrafia e Antigüidades Gregas na Universidade de Roma, que trabalhou junto a outros arqueólogos nas escavações feitas na Basílica de São Pedro para encontrar os restos mortais do apóstolo Pedro, escreveu dois artigos na revista internacional "Trinta dias na Igreja e no mundo", precisamente: fevereiro-1990, pg. 40-45 e agosto-1991, pg. 66-69.
O que vou relatar aqui é o resumo desses dois artigos.
Papa Pio XII "superando o receio e o acanhamento de seus predecessores" ordenou as escavações sob o altar-mor da Basílica de São Pedro. Infelizmente as escavações foram comprometidas pelo uso de ferramentas inadequadas e pela ausência de rigor científico e falta de coesão entre os arqueólogos.
Todavia, o local do túmulo foi encontrado em 1950 e Pio XII deu a notícia ao mundo. Apressadamente. Apressadamente, pois os ossos de Pedro não haviam sido encontrados. As obras pararam.
Dois anos mais tarde, em 1952, a arqueóloga Margherita Guarducci reiniciou as buscas e encontrou no muro do túmulo a inscrição em grego "Petrós ení" (Pedro está aqui); mas os ossos não estavam...
Somente em 1953 foi encontrado, numa caixa de madeira, parte de um esqueleto que examinado por antropólogos revelou pertencer a um só indivíduo de sexo masculino, de cerca de um metro e sessenta e cinco de altura, de constituição robusta e de idade entre 60 e 70 anos. A ossada estava envolvida em precioso manto de púrpura bordado em ouro.
A descoberta provocou toda uma série de contestações dentro e fora da Igreja Católica.
A arqueóloga comunicou oficialmente a descoberta a Paulo VI, que lhe disse: "A senhora não sabe quanta alegria me dá!... Aqueles ossos são como ouro para nós!" E comprometeu-se a dar logo o anúncio numa sessão do Concilio Vaticano II. Mas o anúncio não foi dado.
Certamente foi pressionado a esperar mais, talvez porque isso poderia aborrecer os protestantes, que sempre se pronunciaram contra essa tese.
Finalmente no dia 26 de junho de 1968 Paulo VI anunciou publicamente que os restos mortais de São Pedro haviam sido encontrados debaixo do altar-mor da Basílica de São Pedro. Aos poucos, porém, tudo foi esquecido.
A Santa Sé proibiu que a arqueóloga Margherita Guarducci visitasse os subterrâneos. Dez anos mais tarde, querendo completar seu livro "Pedro no Vaticano" com fotografias tiradas no local, ela soube que não poderia fotografar nada. Recorreu aos cardeais A. Casaroli e J. Ratzinger [atual papa, Bento 16] que queriam ajudá-la; mas não conseguiu nada!
Quando Paulo VI morreu, o silêncio voltou a reinar absoluto sobre as descobertas. 0s guias que acompanham os peregrinos aos subterrâneos não sabem nada ou estão proibidos de falar sobre as descobertas. Alguns até "dizem que a autenticidade dos ossos não foi confirmada" (30 dias, etc; fev. 1990; pg. 45; III Col.)
Então Pedro esteve, ou não, em Roma? A citada revista (que é ultraconservadora) no número de março 1996, pg. 50, escreve: "Todavia enquanto sobre Paulo temos notícias mais precisas (...) quanto à presença de Pedro em Roma não possuímos testemunhas de contemporâneos".
Por isso, acrescenta, "é difícil afirmar quando Pedro chegou em Roma. O certo é que Pedro não ficou ininterruptamente em Roma já que em 49 o encontramos em Jerusalém".
Tudo não passa de "tradição"... disse que disse... Por isso os racionalistas dizem que provavelmente Pedro veio a Roma como "visita", jamais como bispo.
A tradição nasceu numa época que representava o momento melhor na história da Igreja: o imperador Constantino, amigo do papa Silvestre I, bispo de Roma; em seguida: Teodósio e Justiniano.
Era o momento histórico único para colocar as bases da ideologia do poder eclesiástico romano.
Autor: Carlo Bússola, professor de Filosofia na UFES
Fonte: Publicado originalmente no jornal “A Tribuna” – Vitória-ES, numa série sob o título “Os Bispos de Roma e a Ideologia do Poder”.
Comentários do IASD Em Foco
Sabemos que há muitos cristãos sinceros entre os católicos – com os quais o Espírito Santo tem trabalhado e pelos quais temos orado diariamente – e, quando falamos isso, nos referimos tanto aos membros, leigos, como ao clero desta Igreja.
Agora, embora seja bastante difícil e até doloroso admitir isso – como o foi para Martinho Lutero, que era padre e teólogo católico, e para milhões de outros cristãos egressos do catolicismo através dos séculos – toda a base desta Igreja foi construída em cima de imposturas, falsos testemunhos, adulteração dos fatos, mentiras e desvios doutrinários.
Até mesmo quanto à tradicional e arrogante alegação feita pelos líderes e membros de que a Igreja Católica Apostólica Romana é a primeira e única Igreja instituída por nosso Senhor Jesus Cristo, como se pode ver claramente a partir desta criteriosa obra de pesquisa documental do Professor Carlo Bússola, a sua fragilidade e/ou total inconsistência vem à tona com força; ela torna-se evidente e patente, quando confrontada com a pregação, testemunho e estilo de vida dos primeiros (cristãos) seguidores de Cristo.
Nesse sentido, a Bíblia é clara e taxativa: “... aquele que diz que permanece nEle [é cristão], esse deve andar assim como Ele andou” (I João 2:6).
O próprio Cristo torna isso claro ao definir em termos espirituais quem são e como agem, de fato, os Seus verdadeiros irmãos, a Sua verdadeira família, aqui na Terra: “Falava ainda Jesus ao povo, eis que Sua mãe e Seus irmãos estavam do lado de fora, procurando falar-lhe. E alguém lhe disse: Tua mãe e Teus irmãos estão lá fora e querem falar-Te. Porém Ele respondeu ao que lhe trouxera o aviso: Quem é minha mãe e quem são meus irmãos? E, estendendo a mão para os discípulos, disse: Eis minha mãe e meus irmãos. Porque qualquer que fizer a vontade de Meu Pai celeste, esse é Meu irmão, irmã e mãe” (Mateus 12:46-50).
Dessa forma, a verdadeira sucessão apostólica é encontrada tão-somente naqueles que vivem e ensinam a doutrina dos apóstolos. “À lei e ao testemunho! Se eles não falarem desta maneira, jamais verão a alva” (Isaías 8:20).

03/05/2013

O Imperador Constantino e Mudanças no Cristianismo

Visão de Constantino - Rafael Sanzio
É o dia 27 de outubro do ano 312 depois de Cristo. Dois exércitos se defrontam às portas de Roma. O primeiro sai dos Muros Aurelianos para posicionar-se ao longo das margens do Tibre, junto a Ponte Milvio. É comandado por Marcos Aurélio Valério Maxêncio. O segundo, que desceu de Trier (na Alemanha) rumo a Roma, se coloca ao longo da via Flaminia. É guiado por Flávio Valério Constantino. Os dois contendores lutam pelo título de Augusto do Ocidente, um dos quatro cargos supremos, na Tetrarquia, o novo sistema de governo do Império, ideado por Diocleciano.
O sol começa a se pôr quando as tropas de Constantino vêem repentinamente surgir no céu um grande sinal luminoso, com uma frase chamejante:  In hoc signo vinces (com este sinal vencerás). Eusébio de Cesareia, o primeiro grande histórico da Igreja recorda o acontecimento com estas palavras: "Um sinal extraordinário aparece no céu. … quando o sol começava a declinar, Constantino vê com os próprios olhos, no céu, mais acima do sol, o troféu de uma cruz de luz sobre a qual estavam traçadas as palavras IN HOC SIGNO VINCES. Foi tomado por um grande estupor e, com ele, todo seu exército." EUSEBIO, Vita Constantini, 37-40.
Constantino é a prova histórica de que o cristianismo primitivo só tinha poder eclesiástico.
O começo da queda do império romano começou com Constantino levando a capital para Bizâncio e os bárbaros invadindo o império.
Depois da abdicação de Diocleciano e Maximiano, Flávio Constâncio Cloro e Galério Maxímino dividiram entre si o império. Constâncio Cloro recuperou a Bretanha, derrotou 60 mil alemães e edificou a cidade de Spira.
Assim dominava a Inglaterra, e a Bretanha até a Dalmácia e às províncias orientais. Era um homem sóbrio e honesto. Gostava dos cristãos que tratava como amigos mesmo quando se recusavam sacrificar aos deuses romanos.
Constâncio Cloro morreu em York tendo antes proclamado imperador e seu sucessor o filho Constantino. Nesta mesma época quem dominava em Roma, na Itália e na África era Maxêncio, um homem de uma avareza insaciável e de uma devassidão e crueldade pior que Nero. Embriagava-se frequentemente e o vinho o tornava louco furioso. Nestas horas mandava mutilar os próprios amigos.
Era evidente que a guerra devia explodir entre Maxêncio e Constantino. Mas houve apenas começo de guerra, pois Maxêncio morreu afogado no Tibre numa armadilha que havia preparado para Constantino. Então, vencido Licínio, marido de sua irmã, Constância, Constantino tornou-se o único senhor do império.
Quem era Constantino? Segundo os cristãos era um santo, uma vez que em 313, no Edito de Milão, havia ordenado por lei que a religião cristã fosse livre e respeitada. Segundo Julíano, o apóstata, era um diabo cheio de orgulho e de ódio.
Na realidade temos que reconhecer-lhe a inteligência, a coragem e a prudência que lhe permitiram ser o senhor de todo o império romano do Ocidente, do Oriente e da África do Norte, por mais de 30 anos! Mas também foi suficientemente cruel e frio quando se tratava de interesses pessoais...
Mandou matar seu filho Crispo pela simples acusação da madrasta. Mandou sufocar no banho sua mulher Fausta. Mandou matar Liciniano, que era inocente dos crimes de Licínio, seu pai. Estes e muitos outros crimes de aparência política, ele os achava necessários para "proteger-se dentro de casa", como dizia...
Mas certo dia, quando estava entrando no templo de Júpiter para oferecer sacrifícios e purificar-se, o grande sacerdote barrou-lhe o caminho dizendo-lhe que os deuses não o perdoavam...
Foi então que alguém lhe fez observar que o batismo cristão perdoa todos os crimes cometidos anteriormente. Anteriormente? Sim, anteriormente!
Foi assim que Constantino resolveu adiar o batismo para o último dia de sua vida, já que outros homicídios políticos estavam previstos... Se isso é história ou lenda, é impossível saber. O que se sabe é que ainda matou gente e no fim da vida pediu o batismo.
Mas um outro fato estava acontecendo: o Oriente próximo estava se tornando a porta de entrada no império para multidões de bárbaros.
Em 254, os Marcomanos invadiram a Panónia e o norte da Itália. Em 255 os godos entravam na Dalmácia e na Macedónia; os citas, na Ásia Menor; os persas, na Síria; em 257 os godos invadiram o Bósforo e entraram no Ponto; em 258 conquistaram a Calcedónia, Nicomedia e Nicéia; em 259 os alemanos invadiram a Itália; em 260 o imperador Valeriano foi preso pelos persas. Os bárbaros haviam-se apercebido da fraqueza de Roma.
Já Roma, com a recusa do perdão dos deuses, não agradava mais Constantino e assim ele resolveu levar a capital do império para Bizâncio que, em 330, transformou numa esplêndida cidade que chamou de Constantinopla ou Nova Roma, fundando ali uma universidade e uma sede patriarcal onde o bispo tivesse seu lugar de honra primacial no Império. (Daí a luta entre o bispo de Roma e o de Bizâncio).
Parece que a promessa de que o batismo o purificaria de todos os seus pecados criou em Constantino um sentimento de benevolência para com os cristãos.
Mas ele não se apercebeu que Roma, livre do imperador, estava transferindo para o seu bispo a antiga primazia mundial (veja o caso de Atila!): uma primazia religiosa que se transformará brevemente em primazia política.
E este será mais um motivo de rivalidade entre o bispo de Roma e o bispo de Constantinopla: uma