24/09/2009

INQUISIÇÃO EM PORTUGAL: UM ECO COM RETORNO

UM ECO TENEBROSO! - A vítima está nua… Mandando-se-lhe que dissesse a verdade, respondeu:
- Conhecem-me muito mal; desde o primeiro dia que eu disse a verdade e nada mais tenho que dizer! Tapem-me os olhos para que eu não me veja, estando nua!...
Ataram-lhe os braços un ao outro, com uma corda. E ela disse:
- Mesmo que aqui me tirem a vida, morrerei como cristã!... Redentor do Mundo, Jesus, adorado será Tu na cruz eu adoro-Te!...
De novo admoestada para que diaga a verdade, responde:
- Já está dita.
É mandada deitar na mesa do tormento. E depois de deitada, disse:
- Ai, senhores! Porque acreditais em mentirosos?... Senhor! Eu Te confesso e adoro e dai-me forças na tribulação.
Começam a ligá-la ao tormento e adoestam-na a que diga a verdade.
- Como eu Te creio Senhor, assim me ajudes – disse ela.
Perguntar-se-lhe se quer que lhe sejam lidas as perguntas do processo, a fim de avivar a memória.
Respondeu que as tem bem estudadas, que não quer que lhas leiam, e que, como Deus sabe que são falsidades, a livre, e que fizessem o que quisessem.
Foram-lhe lidas as perguntas. Respondeu que já tinha respondido a cada uma e dito a verdade.
São-lhe mandadas apertar as cordas dos braços. Quando se lhe começa a apertar o cordel do braço direito, diz:
- Que quereis que eu diga? Quereis que eu diga falsidades?
Disseram-lhe que não dissesse senão a verdade!
- Não pequei, Senhor meu, Tu bem o sabes! Estou inocente! Já disse a verdade!... Parece que me quereis matar!
Foram-lhe apertando as cordas do braço esquerdo.
No meio de gritos de dor, disse:
- Não mateis as gentes, deixai-as viver!... Olha que me afogo… tenho os braços sobre o estômago! – e deu um grande grito.
É admoestada que diga a verdade, se não quer continuar sujeita a tamanho sofrimento. Responde que já a disse!
- Pois não me confessaria?! A Ti, meu Deus, me confesso! – gemeu a mártir.
Foram-lhe mandados apertar os cordéis das pernas; e sendo admoestada para que dissesse a verdade, disse que já a tinha dito. E, aos gritos, acrescentou:
- Porque acreditais em mentirosos?
Dão os inquisidores ordem para que lhe seja atada a cabeça com uma corda à mesa do tormento e lhe seja despejado um jarro de água sobre a cara, boca e nariz.
Tendo-se-lhe dito que dissesse a verdade, perguntou:
- Qual é mais para recear, o fogo do Inferno ou a água?
Começou-se a deitar a água até despejar o primeiro jarro. Quando pôde falar, disse:
- Matam-me sem culpa!
Foi mandado despejar outro jarro, e admoestam-na para que diga a verdade. Responde: - que já disse a verdade.
Continuou a despejar-se água; e quando se parou por um pouco, disse:
- Oh cruel verdugo! – e não disse mais nada.
Acabou de se despejar o jarro, e, intimada a dizer a verdade, disse: que assim Deus a livre, como tem dito apenas a verdade!
Por ser tarde, os senhores inquisidores mandaram suspender o tormento, com protesto de continuar depois, se a vítima persistisse em… não dizer a verdade!
Qualquer crente na Bíblia, pode perceber que esta senhora que é torturada, não o é por crer nas Sagradas Escrituras. Outro motivo será…cruel é ferir, aviltar e matar os que são da sua própria fé.
Pôde isto acontecer em Portugal? Sim!
Pode isto voltar acontecer em Portugal? Sim!
Pode isto acontecer no Brasil? Sim!
Ao acontecer, não será aos da própria crença mas àqueles descritos em Apocalipse 14:12: “Aqui está a perseverança dos santos, daqueles que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus.”
Será que a tua relação com Jesus hoje te dará forças para viver se necessário, tal experiência, sem negar o Senhor?

NAS QUATRO COVAS DAS FERAS

E era assim, por toda a parte: nos cárceres secretos do (1ª Cova) Rossio, em Lisboa; nas covas tenebrosas, ocultas no (2ª Cova) Largo do Marquês de Marialva, em Évora; nos antros ignominiosos da Inquisição de (3ª Cova) Coimbra e nas (4ª Cova) masmorras infectas de Goa!
Porque a Inquisição atravessou com os seus furores os mares e assolou a América e a Ásia. A Espanha vomitou a Inquisição no México. Portugal instalou em 1561 o tribunal sinistro em Goa, independente da Inquisição suprema da Metrópole. Foi lá que exerceram as altas funções divinas da Santa piedade, como inquisidores-gerais das Índias, entre outros, Bartolomeu da Fonseca e Frei Gaspar de Melo.
O processo ali era igual ao da Europa: mas os cárceres eram mais imundos, os desgraçados tinham ainda menos esperança de escapar aos horrores da sua triste sorte, e estavam os perseguidores mais seguros da sua impunidade. E raro era o ano em que não alumiasse sinistramente as plagas de Goa o clarão das fogueiras da Inquisição, acesas no Campo de S. Lázaro!
Nas quatro covas das feras do Santo Ofício se aterrorizava e explorava a humanidade. Dali, a Igreja de Roma perpetrava o roubo, o confisco e o assassínio. À vista dessas covas, feitas pelos modelos das de Sevilha, Toledo e Granada, Valladolid, Córdova e Conca, fizeram os papas os negócios mais infames! Ora vendiam por bom dinheiro a absolvição às caravanas de hereges que afluíam a Roma para lha comprarem.
Ora esgotado esse farto manancial, estabeleciam a faculdade de recusar, pela qual o herege podia queixar-se da Inquisição.
Neste caso, quem mais dava, mais direitos tinha. Se o herege era rico e pagava mais do que os inquisidores, o papa recusava a estes o direito de julgar; se o inquisidor mandava a Roma mais dinheiro do que o herege, o papa autorizava-o a exercer as funções de julgador. Ora, como o inquisidor confiscava os bens e, por isso, se tornava capaz de pagar mais do que o confiscado, este havia de ser com certeza degolado “pela Inquisição ou pelo padre-santo”. Ainda o papa engendrou outro meio de apanhar dinheiro e que lhe deu magníficos resultados: - outorgou para si próprio o direito de solicitar a reabilitação dos hereges. Como se sabe, os filhos e os netos dos condenados na Inquisição ficavam desonrados e incapazes do exercício de qualquer cargo. Com dinheiro, porém, reabilitava-se o morto e com ele os seus herdeiros. E era assim que os cofres do "vigário de Cristo" na Terra se enchiam de ouro que os hereges lá iam despejar para a compra da reabilitação!...
Nas quatro covas das feras do tribunal infame, cujos familiares eram capazes dos crimes mais espantosos, diante da impassíveis atroz dos inquisidores, tremiam martirizadas, as carnes dos hereges nus; rompiam, longe da luz do Sol e sem que alguém os ouvisse fora das paredes da casa dos tormentos, os fritos lancinantes da dor dos desgraçados, amarrados ao potro, torturados pela água e pelo fogo, ou nos tratos de polé; sucederam todos os dias e durante séculos, “todos os horrores da mais cruel, da mais brutal, da mais repugnante, da mais bárbara das instituições que o fanatismo engendrou na humanidade!”

23/09/2009

A INQUISIÇÃO EM PORTUGAL: O REI MAGNÂNIMO

Corre a época do “magnânimo”, do “Cristianismo”, do rei freirático e frascário, D. João V. e continua o mesmo coro selvático de gritos de dor nas masmorras das quatro covas da fera! Nos salões do Paço da Ribeira não entra o cicio de um só gemido, que se escapasse dos Estaus, que enganasse a atenta vigilância de D. Nuno da Cunha, o inquisidor-geral, e tocasse no coração de Dª Mariana de Áustria!... Desapareciam a cada passo, barra fora, a caminho do Brasil, as levas de condenados pela Inquisição e, durante o reinado afrodosíaco do amante da Madre Paula, milhares de vitimas foram condenadas à fogueira!
Um século antes, em 1620 era atormentado Baltasar Estaco, entre outras coisa, por se lhe terem metido na cama, várias vezes, para o aquecerem, mulheres-donzelas, despidas!... Nas covas das quatro inquisições de Portugal continuavam a quebrar-se os ossos aos hereges… E D. João V, o que fez fabricar em Roma a capela de S. João Baptista da Igreja de S. Roque, o monarca devoto, que por tanta devoção recebeu do papa o título de fidelíssimo (!), o que foi tão magnifico em coisas de religião, além de viver amancebado com a Madre Paula, enchia-se de dormir, perfumado de incenso, entres as carnes provocantes de todas as freiras de Odivelas!
"Em 1715, aceitando convite do papa Clemente XI, fez armar uma frota para defender Corfu. Foi comandada por Lopo Furtado de Mendonça, conde do Rio Grande. Tal socorro foi impedido pelos ventos de chegar a tempo, voltando a entrar na barra do Tejo. Obteve porém grande vitória no ano seguinte no cabo de Matapão. A criação da basílica Patriarcal, em Lisboa, em 1717, se deve muito a tal êxito. Roma, aliás, sempre foi para D. João V o verdadeiro fiel da balança européia, Portugal sendo um país em que Estado e Igreja continuavam a ser um bloco homogêneo. Houve conflito em 1720, melhorado em 1730 com a eleição de Clemente XII e o reatamento diplomático. Em 1747 D. João alcançou grande vitória ao lhe ser concedido o título de «Fidelíssimo» pela Cúria."

A INQUISIÇÃO EM PORTUGAL: A AGONIA!

Foi o Marquês de Pombal que quebrou, enfim, o poder da Inquisição! Ela era de tal força no sangue envenenado da Nação, que nem o Marquês a extinguiu!
Mas reformou-a, impôs-lhe um regulamento, transformou-a em tribunal régio, e reservou-lhe o conhecimento das causas relativas à pureza da fé. O regimento que o Marquês lhe deu – confirmado por alvará de 1 de Setembro de 1774 – acabou com todas as formas odiosas dos processos inquisitoriais.
Nunca mais, desde essa hora, o Santo Oficio pronunciou uma sentença de morte!
E ainda mais fundas lhe cortou as unhas, o grande ministro, quando aboliu todas as distinções entre cristãos-novos e velhos; quando declarou os cristãos-novos aptos para quaisquer empregos públicos e dignos de quaisquer honras, impondo também, graves penas a quem os insultasse; quando declarou livres todos os escravos nascidos em Portugal, assim como livres o que viessem do Brasil, iguais aos europeus os habitantes da Índia Portuguesa; quando aboliu o índex jesuítico, que pesava com mão de ferro sobre o pensamento em Portugal – segundo a frase de Pinheiro Chagas.
Entrou, assim francamente, na agonia o velho monstro!

03/09/2009

A INQUISIÇÃO EM PORTUGAL: VIVA A LIBERDADE!

E essa agonia foi o Santo Ofício arrastando durante quarenta e seis anos que se seguiram à data da reforma do marquês.
Dizia, é verdade, e com muita justa razão, Francisco Manuel do Nascimento, em anotação à Ode escrita de Paris em 1806:
“Considerai bem que a Inquisição é uma serpente, que está por ora como amodorrada, mas que apenas, por desgraça de Portugal, subir ao trono um rei, a quem os frades fanatizem, súbito amodorrada serpente acorda, espreguiça-se, e tomando novas forças, remoçada devorará o Reino, que a não matou. Considerai que sopita um tanto no reinado de D. João IV, apenas ele morreu, com que devastadora crueldade não se ensopou ela no sangue das infelizes vítimas do seu ciúme e da sua cobiça, até que o marquês de Pombal a açaimou.”
É, todavia, certo que, apesar dos frades terem tido nas suas mãos a rainha louca, nem mesmo durante o reinado da filha D. José, a Inquisição conseguiu refazer-se do golpe decisivo que o marquês lhe dera!
Entra na Regência o grande e heróico príncipe João… e também o Santo Ofício apenas tem forças para fingir que ainda vive, como demonstram os processos de Curvo Semedo, José Agostinho de Macedo, Silvestre Ferreira, André da ponte do Quental da Câmara, avô de Antero do Quental, Bocage e Rebelo da Silva.
Por último, estando o dito grão – príncipe João, com sua família e fâmulos, de jornada pelo Brasil, em homenagem aos generais de Napoleão Bonaparte, rompe em 24 de Agosto de 1820 a revolução no Porto.
E em 15 de Setembro, o povo de Lisboa, tendo-se concentrado no Rossio, entrou no Palácio da Inquisição, situado precisamente no lugar onde esteve o palácio dos Estaus e onde actualmente realça o edifício do Teatro Nacional, esfrangalhou tudo a que pode deitar a mão, visto ter encontrado os cárceres vazios, e, por fim, arremessou ao chão, fazendo-a em cacos, a estátua da Fé!
Matava assim o povo, para sempre, a Inquisição portuguesa!
Sirvam-lhe pelos séculos fora, de epitáfio, estas palavras de Alexandre Herculano:
“Nos três factos principais, manifestação completa do espírito da mais atroz, da mais anticristã instituição que a maldade humana pôde inventar, se resume a história da Inquisição portuguesa: - nas capturas arbitrárias; nos longos cativeiros sem processo; nas fogueiras devorando promiscuamente o Cristão e o Judeu por honra da Inquisição e glória de Deus…
Eis o que se fizera antes de 1547 e o que se fazia depois. Os escândalos… as espoliações, as falsificações, as mentiras impudentes, os atentados contra os bons costumes, as hipocrisias insignes, as barbaridades ocultas, as hecatombes públicas de vítimas humanas!”


Bibliografia:
Enciclopédia pela imagem A INQUISIÇÃO
Frei Francisco Xavier - Diálogos de Vária História
Alexandre Herculano - Da Origem e Estabelecimento da Inquisição em Portugal
Arte Religiosa em Portugal - Emílio Biel & C.ª
Pdre António Vieira
Nota: Estas obras servirão de documentação ao trabalho que apresentaremos neste Blogue sobre a Inquisição em Portugal.

01/09/2009

AFINAL A COISA ESTÁ MESMO FEIA

“Verbo Domini coeli firmati sunt”(Sl XXXII, 6)

Pela palavra de Deus, os céus foram firmados.
A Palavra de Deus é o Verbo, o Filho de Deus. A Palavra de Deus é a Verdade, pois que o Filho de Deus encarnado declarou ser a Verdade: “Ego sunt via, et veritas, et vita”( Jo., XIV,6).
Portanto, é pela verdade que os céus foram firmados.
E se até os céus foram firmados pela verdade, nada há que a Verdade não fortaleça.
Exactamente, a crise que a Igreja e o mundo hoje atravessam foi causada pelo fato de que o Vaticano II não buscou a verdade. Antes, pelo contrário, com a escusa da pastoralidade, os Bispos, no Vaticano II, procuraram agradar ao Mundo, usando um palavreado ambíguo, fruto da Fenomenologia e da Hermenêutica Moderna.
Nem proclamaram a verdade, nem condenaram os erros.
O mundo logo seguiu o exemplo do Vaticano II e proclamou, na revolução de 1968, o novo dogma infernal: “É proibido proibir".
Tudo é permitido.
O relativismo triunfou.
Resultado: o mundo caiu no maior abismo a que se chegou na História, e até os “céus” foram abalados, porque se omitiu a verdade que os firmava.
Desde o Vaticano II, pela desgraça do ecumenismo, o indiferentismo religioso, o relativismo e o subjectivismo lançaram o mundo no abismo da incerteza, e abalaram os meios eclesiásticos, os “céus”.
O Vaticano II adoptou a Fenomenologia como linguagem filosófica para se comunicar com o mundo in gaudio et spes. E daí vieram “tristitiae et angustiae”. Tristezas e angústias.
Graças a Deus, agora, Bento XVI faz a barca de Pedro voltar a amarrar-se nas colunas da Verdade e da Caridade. Na Hóstia consagrada e em Maria Santíssima.
Em sua recente encíclica, Caritas in veritate, o Papa Bento XVI, gloriosamente reinante – e gloriosamente não é fórmula de praxe, mas luminosa realidade – estabeleceu como fundamento de tudo a verdade objectiva, condenando o opinionismo, o subjectivismo e o relativismo.
Eis suas palavras:
“A verdade, fazendo sair os homens das opiniões e sensações subjectivas, permite-lhes ultrapassar determinações culturais e históricas para se encontrarem na avaliação do valor e substância das coisas. A verdade abre e une as inteligências no lógos do amor: tal é o anúncio e o testemunho cristão da caridade” (Bento XVI, Caritas in veritate, n0 4).
E ainda:
“No actual contexto social e cultural, em que aparece generalizada a tendência de relativizar a verdade, viver a caridade na verdade leva a compreender que a adesão aos valores do cristianismo é um elemento útil e mesmo indispensável para a construção duma boa sociedade e dum verdadeiro desenvolvimento humano integral” (Bento XVI, Caritas in veritate, n0 4).
Para a doutrina católica do conhecimento e da verdade, tal como foi expressa por São Tomás, “a verdade é a adequação entre o entendimento e as coisas”.
Eis a citação de São Tomás:
“Diz Rabi Ysaac no livro De Definitionibus (citado por Avicena in Metaphisica. Tomo I , cap. IX) que a verdade é a adequação entre o entendimento e as coisas” (São Tomás de Aquino, Suma Teológica, I, Q. XVI, a. 2).
A verdade é alcançada pelo conhecimento humano por via abstracta e não intuitiva. Através dos nossos sentidos, captamos as imagens sensíveis das coisas, e, por abstracção, formamos uma ideia do que elas são. Abstraímos das coisas a sua forma substancial. Na correspondência da ideia do sujeito conhecedor com o objecto conhecido, nisso está a verdade.

Verdade é a correspondência entre a

Idéia do <----------------- sujeito <----------------- e o objecto conhecido conhecedor <----------------- Nosso intelecto, mal comparando, “fotografa” a realidade. A “fotografia” assim obtida é o conceito formado em nosso intelecto. Todos os homens, normalmente, alcançam a mesma ideia de cada coisa conhecida. E é o que nos permite conversar e viver em sociedade. Todos temos a mesma verdade retirada da realidade. Se isso não fosse assim, ser-nos-ia impossível conviver. Seria impossível, para dar um exemplo, jogar xadrez, pois que cada um teria uma visão diferente das peças do xadrez e do próprio jogo. A verdade é, portanto, uma. Como escrevo para leitores da internet, se me permita dar um esclarecimento primário. A ideia de um mesmo objecto é a mesma para todos os que o conhecem. A palavra que expressa essa ideia única pode ser diferente em cada língua. Em italiano, a palavra “burro” significa manteiga. Mas, apesar disso, o conceito de manteiga, quer em português, quer em italiano, é o mesmo. A verdade é una. Além disso, a verdade é universal. Isto significa que ela é a mesma em todos os tempos e em todos os lugares. 1+1 = 2. Isso há muito tempo. Isto é, sempre foi assim e sempre será assim. O teorema de Pitágoras continua, e continuará sempre, exprimindo a mesma verdade: o quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos. Hoje, se costuma dizer que certas ideias são antiquadas, ou que outras são modernas. O que é um relincho bem moderno. Uma ideia não se classifica primeiramente como antiga ou nova, mas como certa ou errada. 1+1=2, em toda parte. Portanto, se a verdade é universal, sempre a mesma, e em toda parte, a verdade é imutável. Finalmente, deve-se lembrar que a verdade é objectiva, e não subjectiva. Não é a imagem da máquina fotográfica que produz o objecto fotografado. É o objecto fotografado que produz a imagem fotográfica. Do mesmo modo, não é a ideia que o sujeito conhecedor tem do objeto que produz esse objecto. É o objecto real que produz a idéia concebida no intelecto. A verdade provém do objecto. A verdade é objectiva. Concluindo, a verdade é: una, universal, imutável e objectiva. O mal do mundo actual provém da negação da existência da verdade objectiva. O que leva a pensar que a verdade é pessoal, múltipla, particular, mutável ou evolutiva, e subjectiva. Ora, o lugar onde cada um se julga possuidor de uma verdade pessoal única se chama manicómio. O mundo moderno é o grande manicómio da história. E o mais trágico é que esse mundo moderno exige que haja diálogo. Um diálogo em que cada palavra é entendida de modo subjectivo, por cada um. A Modernidade introduziu o diálogo dos loucos. Para os quais não há dicionário Como querer então que haja entendimento entre os homens? Houve um caso histórico anterior ao da Modernidade, no qual cada um tinha um vocabulário ininteligível para todos os demais . Foi o da Torre de Babel. Revivemos hoje a Torre de Babel. O Manicómio das filosofias. Com a sanção do Vaticano II, através da visão hermenêutica moderna, totalmente subjectivista. Dessa relativização da verdade nasceu a relativização de todos os valores. Se não há verdade objectiva, não há nem bem e nem beleza. Tudo seria mera opinião. Ninguém teria certeza de nada. Cada um acha o que quer. Então, para que estudar? Para que a escola? Para que a Igreja? Vivemos no reino do “achismo”. Num babel manicómio “achista”. Esse mal vem de longe. Vem de Descartes. Vem de Kant. Vem dos filósofos românticos que inventaram o Idealismo alemão. Para o Idealismo, é a ideia que põe o ser. A única realidade seria o eu pensante que criaria o real. O que cada um pensa seria a verdade para ele. Cada um teria a sua verdade. Portanto, não existiria a verdade objectiva. A verdade dependeria de cada sujeito. Ela seria subjectiva, pessoal. A guilhotina da Revolução Francesa, os canhões de Napoleão, os filósofos abstrusos alemães, ajudados pelo romantismo, fizeram triunfar o subjectivismo por toda parte. Esse mal destruidor da inteligência cognoscitiva, negador da verdade objectiva, foi sancionado pelo Vaticano II, com a adopção da Fenomenologia de Husserl, e da Hermenêutica moderna, decorrente dela, como meios aptos para exprimir a doutrina católica. Na verdade , para exprimir o Modernismo; Acontece que a Fenomenologia nega que se possa conhecer o ser e a hermenêutica moderna defende o livre exame da realidade. Ela afirma que tudo pode ser interpretado livremente, negando toda objectividade e toda possibilidade de conhecimento certo das coisas e dos textos. Com efeito, “a moderna Hermenêutica parte do pressuposto de que o ser não é cognoscível objectivamente, nem definível, é somente interpretável” (Mário Bruno Sproviero, in Verdade e Conhecimento – São Tomás de Aquino, Martins Fontes, São paulo, 1999, Tradução, estudos introdutórios e notas de Luiz Jean Lauand e Mário Bruno Sproviero, p. 97). A Fenomenologia e sua Hermenêutica permitiram ao Vaticano II afirmar que cada religião é a verdadeira para os seus seguidores. Não haveria uma religião verdadeira. Todas seriam verdadeiras. Ainda que contraditórias. Acreditando subjectivamente em sua religião pessoal, todos poderiam se salvar em qualquer religião que fosse. Daí nasceu o ecumenismo. Todas religiões sendo verdadeiras, tanto faz seguir uma ou outra. Daí, o indiferentismo e o sincretismo actual, esses dois filhos loucos do ecumenismo. Por isso, é de se comemorar jubilosamente que o Papa Bento XVI, 44 anos após o fim do Vaticano II, tenha tornado a defender que a verdade é objectiva e não relativa. E como para mau entendedor não basta meia palavra, cremos que para esse tipo de leitor do site Montfort – e é certo que muitos teólogos e bispos modernistas assiduamente nos lêem – é preciso e conveniente repetir-lhes a citação do texto de Bento XVI: “A verdade, fazendo sair os homens das opiniões e sensações subjectivas, permite-lhes ultrapassar determinações culturais e históricas para se encontrarem na avaliação do valor e substância das coisas. A verdade abre e une as inteligências no lógos do amor: tal é o anúncio e o testemunho cristão da caridade” (Bento XVI, Caritas in veritate, n0 4). Bem entendido, senhores leitores de má vontade? Somente a verdade objectiva é que pode livrar o mundo moderno da loucura do opinionismo subjectivista e do relativismo. Há mais de quarenta anos essa verdade tinha deixado de ser pregada. Bendito seja o Papa Bento XVI que voltou a afirmá-la. Benedictus qui venit in nomine Domini. Este Papa colocou de novo, como fundamento de tudo, a Verdade. E a Verdade envolve, sobrenaturalmente, a Fé, e naturalmente a Metafísica. Fé e Metafísica são as bases de tudo. Até da política. A ONU — “Cette chose là de New York” – como dizia De Gaulle, até essa calamidade produtora de calamidades, até a crise da ONU comprova que nada subsiste sem a Fé e sem a Metafísica. Por isso, é pena que, quando um Papa clama de novo que existe a Verdade e torna a colocá-la como fundamento de tudo, até da Caridade, é pena que até entre os bons haja quem focalize como mais importante uma mera apreciação política, como ele fez, falando da necessidade de reformar a ONU. Da ONU, que a Verdade e a Justiça exigem que seja destruída. É um erro de perspectiva focalizar como fundamental uma mera opinião política de Bento XVI, quando se deveria exaltar a colocação da Verdade objectiva, Teológica e Metafísica, como fundamento de tudo. Fazer isso seria colocar a importância da critica da política acima da visão crítica dos erros teológicos e metafísicos. Nas palavras de Bento XVI na Spe salvi, isso acontece porque, “Tendo-se diluída a verdade do além, tratar-se-ia agora de estabelecer a verdade de aquém. A crítica do céu transforma-se na crítica da terra, a crítica da teologia na crítica da política(Bento XVI, Spe salvi,n0 20). Exaltemos a Verdade que firma até mesmo os céus. Pois a Verdade destruirá a ONU, essa quimera gerada em antros secretos pelos assim chamados... “homens de boa vontade”.
São Paulo, 22 de Julho de 2009. Orlando Fedeli
Este artigo revela muita coisa feia;
1) Eles não se entendem.
2) A Verdade não está relacionada com a Palavra de Deus.
3) Uma no cravo outra na ferradura, umas vezes estão contra o Papa outras a favor.
4) Há dentro da Igreja Católica o fermento da Inquisição.